Por Marcus Tavares
O cineasta Leopoldo Nunes, que já havia ocupado outros cargos estratégicos no próprio Ministério da Cultura, como o de diretor de programação e conteúdo da TV Brasil, deixou, no dia 8 de outubro, o posto de secretário da Secretaria do Audiovisual do órgão. Em seu lugar interinamente está João Batista da Silva, que também acumula a Diretoria de Gestão de Políticas Audiovisuais.
Um dia antes, o site do MinC divulgou um relatório de sua gestão, iniciada em dezembro de 2012. Nele, o ex-secretário lista as ações realizadas e destaca a retomada dos editais Curta Criança e Curta Animação, “que tiveram grande repercussão e impacto para o setor audiovisual e para o seu público”. O MinC não se pronunciou sobre a sua saída.
Leia aqui o relatório
Procurado pela revistapontocom, Leopoldo, por e-mail, respondeu a algumas perguntas sobre a retomada dos editais, uma das últimas ações de sua gestão. Sobre sua saída, ele disse apenas que deixa a SAV para se dedicar a projetos “estratégicos de audiovisual para o país”.
Acompanhe:
revistapontocom – Depois de três anos, a Secretaria do Audiovisual, no final de sua gestão, retomou os editais curta criança. Qual foi o objetivo da SAV/MinC com esta ação?
Leopoldo Nunes – Fomentar produções livres voltadas para a infância. Digo livre, porque são obras originais, que podem vir a tornar-se série, longa, jogos, uma série de produtos desta larga cadeia. A produção comercial pode ser renovada a partir deste tipo de edital. De um programa similar surgiu, por exemplo, Meu Amigãozão. O fomento à produção é fundamental. Digo que é a ação mais ousada em política pública. Mas a Secretaria também apoia inúmeras ações, como festivais, mostras, encontros, editoração de DVD, difusão, parcerias com televisão, entre outras.
revistapontocom – Existem outras ações/encaminhamentos em relação à política de produção audiovisual para crianças, além dos editais, no âmbito da SAV/MinC?
Leopoldo Nunes – Não. Para 2013, optamos mesmo pela retomada do Curta Criança e do Curta Animação. O primeiro permite o uso de qualquer gênero, animação, ficção, documentário. E também permite exercitar narrativas mais longas, de até 15 minutos. O Animação é um desafio de 1 minuto em animação. É a síntese da síntese. Aqui consagrou-se como espaço da experimentação, da produção de obras originais, em formatos adequados para este fim. Já a obra formatada para o mercado, esta conta com diversos mecanismos de financiamento apropriados, como o Prodav e o Funcine.
revistapontocom – Pode-se dizer que há um consenso no MinC sobre a importância de se criar/estabelecer/promover uma política pública de produção audiovisual para as crianças?
Leopoldo Nunes – Há consenso. Este é um conceito de sociedade, ninguém pode ser contrário a isto. O futuro está no novo, na vida nova que, quanto mais educada e conhecedora dos saberes da humanidade, maiores as chances de ela cuidar melhor do mundo. O cinema é fascinante, assim como os jogos e outros brinquedos derivados da linguagem cinematográfica, da invenção do cinema.
revistapontocom – Recentemente, a Ancine, vinculada ao MinC, divulgou o Plano de Diretrizes e Metas para o Audiovisual. Há alguma referência ao público infantil?
Leopoldo Nunes – Não tenho certeza se há alguma menção específica ao filme infantil, mas toda a produção de longas e séries de TV contaram com os mecanismos de financiamento da Ancine. Além disso, do ponto de vista do mercado, o produto infantil está entre os mais viáveis, mais rentáveis, com maior longevidade e alto potencial de licenciamento de produtos.
revistapontocom – Como o senhor avalia historicamente a política/gestão da SAv/MinC frente à política de produção audiovisual para as crianças?
Leopoldo Nunes – Em termos de política pública, tudo começa sistematicamente na gestão de Orlando Senna/Gilberto Gil, quando eu era chefe de Gabinete da SAv. Mas a sociedade é muito mais avançada que o Estado ou governos. Não podemos esquecer O Grilo Feliz, de Walbercy Ribas, o primeiro, desenvolvido em precários PCs, em sua casa, depois distribuído pela Colúmbia. Tenho este filme como a máxima necessidade de expressão e um símbolo da genialidade do brasileiro em inventar. Há uma máxima no Piauí que diz: ou inventamos ou padecemos.