Por Marcus Tavares
A exibição de filmes de produção nacional constituirá componente curricular complementar integrado à proposta pedagógica da escola, sendo a sua exibição obrigatória por, no mínimo, 2 (duas) horas mensais. Esta é a redação do parágrafo oitavo, do artigo 26, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, que está em vigor. O novo texto foi incluído no dia 27 de junho por determinação da Lei 13.006, publicada no Diário Oficial da União. A medida foi comemorada por cineastas e especialistas da área. Boa parte entende que a obrigatoriedade tende a divulgar o cinema nacional e, consequentemente, a cultura brasileira. Desde que entrou em vigor, jornais, revistas e canais de TV vêm repercutindo a decisão que chega às escolas.
A revistapontocom ouviu a professora Claudia Mogadouro, que leciona no curso de Especialização em Educomunicação da Escola de Comunicações e Artes da USP. Claudia, que também ministra cursos de difusão cultural de História do Cinema e foi consultora pedagógica do Projeto Tela Brasil, afirma que a intenção da nova lei é boa no sentido de que o cinema venha a ser considerado, de fato, parte do currículo e não mera ilustração de conteúdos das matérias consideradas mais importantes, como geralmente se observa. Segundo ela, pela lei, o cinema é visto como obra de arte. “Portanto, a aprovação é um passo importante”, destaca.
No entanto, Claudia faz ressalvas. “Pode ser uma lei que não pegue“, avalia. Pior ainda: se a orientação não for bem compreendida, pode causar danos. “Já está cristalizada uma prática nociva da cultura escolar de passar filme quando falta um professor. Isso é bem mais comum do que parece. E vale tanto para escola pública quanto para particular. A partir de agora, as escolas podem, simplesmente, eleger filmes brasileiros para esse tapa-buraco, dizendo que estão cumprindo a lei. Outro problema: o conjunto de professores desconhece a produção do cinema brasileiro. Por quê? Em primeiro lugar, em sua maioria, os educadores têm preconceito com o nosso cinema. Acham que só existem pornochanchadas e filmes com palavrões. E segundo: o cinema brasileiro sofre de um grave problema de distribuição e exibição. Temos muitos filmes brasileiros bons, de diversos gêneros, para todos os gostos e idades, mas que não chegam às salas de cinema, ou, se chegam, ficam em cartaz uma ou duas semanas. Poucos espectadores tomam conhecimento desses filmes, mesmo sendo excelentes e com potencial de agradar a um público amplo. Nossos professores, como parte da nossa sociedade, conhecem apenas os campeões de bilheteria, os chamados blockbusters nacionais. O que vão passar nas escolas? Os sucessos recentes da Globo Filmes, como Os homens são de marte e é pra lá que eu vou ou De pernas pro ar?”, indaga.
Neste sentido, a professora defende uma urgente capacitação entre os educadores para que saibam usar o cinema como obra de arte e conheçam a diversidade, criatividade e potencialidade do cinema brasileiro. “Se não souberem escolher filmes e construírem sentido com eles, será mais uma ação que cai de paraquedas. Lembro que existe uma geração inteira que odeia Machado de Assis e outros autores obrigatórios simplesmente porque eles eram impostos goela abaixo dos estudantes”, frisa.
Leia o artigo O Cinema Nacional nas Escolas, de Claudia Mogadouro.
Claudia ainda chama a atenção para a infraestrutura das escolas. Muitas não têm instalações e equipamentos para a exibição dos filmes. De acordo com o Censo Escolar 2013, 43 mil escolas brasileiras não possuem televisão. O número aumenta quando se contabiliza aparelhos de DVD – do total de 190,7 mil colégios, mais de 48 mil não têm o equipamento. “Infelizmente, a lei ainda vai permanecer como desafio, por mais que tenha a norma, ela não será implementada imediatamente. Somos um país gigante, com muita diversidade. Temos escolas que não dispõem de recursos mínimos como TV e vídeo. Elas terão que ser equipadas, disse o vice-presidente da Undime (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação), Alessio Costa Lima, à Agência Brasil.
A partir desta semana, a revistapontocom vai publicar dicas de filmes (curtas ou longas) brasileiros para serem exibidos nas escolas.
A dica desta semana é da professora Claudia Mogadouro. Confira