A interatividade da TV Digital

Luiz Fernando Soares, da PUC-Rio, fala sobre o impacto da TV Digital  

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Por Priscilla Leite

Muito se fala sobre a interatividade que a TV Digital vai trazer para o dia-a-dia dos telespectadores. Acessar conteúdos específicos, parar a programação, obter detalhes sobre a cidade em que se passa a novela, fazer compras ou ainda optar por qual ângulo deseja assistir à partida de futebol são apenas algumas das aplicações de interatividade que deverão chegar aos domicílios brasileiros no primeiro semestre de 2009.

O responsável por isso é o Ginga: um software que faz a ponte entre o sistema operacional do receptor da televisão às aplicações de interatividade criadas e disponibilizadas aos telespectadores. Nas palavras dos especialistas, Ginga é o middleware. É a plataforma da interatividade da TV Digital brasileira, 100% nacional, produzida aqui no Rio de Janeiro, por alunos e professores da Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio).

Para saber mais sobre o middleware e o seu impacto na rotina dos brasileiros, a revistapontocom conversou com Luiz Fernando Gomes Soares. Considerado o “pai do Ginga”, Luiz é professor titular da PUC-Rio, membro da World Wide Web Consortium, do Conselho de Administração do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto Br, e do Fórum Brasileiro de TV Digital.

Acompanhe:

revistapontocom – Afinal, o que é o Ginga?
Luiz Fernando Soares
– O Ginga é um middleware. É um software que é acoplado aos receptores de TV para dar suporte ao desenvolvimento de aplicações interativas. Ele permite que as aplicações desenvolvidas funcionem em qualquer aparelho de tevê. Além disso, o Ginga também oferece suporte para o desenvolvimento de diferentes interatividades. 

revistapontocom – Quais são essas aplicações/interatividades?
Luiz Fernando Soares
– Cada programa de TV disponibilizará para o telespectador uma série de aplicações interativas de acordo com o seu perfil e objetivo. As opções estarão disponíveis na tela da tevê, que serão ou não acessadas pelo usuário por meio do controle remoto. O telespectador poderá, por exemplo, escolher a música que tocará durante um programa, o cenário, bem como a roupa que o ator estará usando. O Departamento de Artes da PUC-Rio já desenvolveu um programa no qual o ator, digamos, pode fazer ginástica no Jardim Botânico, no Centro ou até mesmo na água e com várias roupas diferentes. Haverá também o aplicativo de câmeras que permitirá que o usuário decida por qual ângulo ele vai assistir a um programa. Em uma apresentação de orquestra, o telespectador poderá escolher entre a câmera que foca o maestro, os instrumentos de corda ou a que enquadra todos os músicos. Ou ainda aquela opção que traz mais de uma imagem na mesma tela. Além disso, os telespectadores também terão acesso a informações adicionais sobre tudo o que estiver sendo exibido pelo programa. No caso da orquestra, ele teria dados de quando a orquestra foi formada, o que ela toca e quem são os músicos.

revistapontocom – O Ginga também permitirá novos formatos de propaganda?
Luiz Fernando Soares
– Sim e durante a programação. Por exemplo, o ator de Matrix, na história do filme, faz uso de uma pilha. Exatamente nesse momento aparecerá no canto do televisor a propaganda de uma empresa que produz aquela pilha. Outro exemplo: esse mesmo artista usa, em uma das cenas, óculos escuros. O telespectador poderá apertar o botão no controle remoto, de cor correspondente ao ícone que aparecerá no produto, e comprá-lo imediatamente. Em um programa de variedade, o telespectador poderá fazer o mesmo que o ator em cena. Exemplo: se o artista, em algum quadro do programa, tiver de escolher entre quatro pratos de comida, o telespectador, de casa, também poderá optar e, quem sabe, pedir para ser entregue em sua residência. Informações nutricionais sobre o prato poderão ser obtidas ao mesmo tempo. O Ginga também vai oferecer um acervo de jogos que terá o objetivo de promover a conscientização do bom uso das mídias. Todas as aplicações também estarão disponíveis no celular e no computador, utilizando a interatividade da mesma forma. Com o Ginga, os programas de TV terão maior oportunidade de utilizar a tecnologia sob uma perspectiva social, educando, informando e dando dicas, inclusive, de cultura e saúde.

revistapontocom – Estamos diante então de uma nova relação entre usuário e tevê?
Luiz Fernando Soares
– O usuário terá acesso a uma programação mais rica e poderá interagir com ela. Ele verá o que quiser e como quiser. Não será mais um telespectador passivo, mas, sim, ativo. Hoje, o máximo que podemos fazer é mudar o canal que estamos assistindo. Com o Ginga, iremos interagir com o conteúdo, alterar a programação, escolher a câmera, o som, o cenário etc. Vamos tomar decisões.

revistapontocom – Neste sentido, toda engenharia de produção da TV terá de ser repensada?
Luiz Fernando Soares
– O produtor de conteúdo terá a oportunidade de criar um programa inovador, completamente diferente do que ele cria hoje. Além disso, ele terá que oferecer ao telespectador a possibilidade de transformar e interagir com o programa. Cada programa será único, no entanto, o usuário, de acordo com as aplicações disponíveis, poderá escolher entre músicas, roupas e informações. Isso, com certeza, exigirá dos criadores e produtores de tevê maior criatividade e trabalho. Um grande desafio. O Ginga revoluciona tudo: a produção, o marketing, o trabalho dos lojistas e até mesmo dos fabricantes. Para dar conta da demanda, a PUC-Rio criou, inclusive, o Instituto de Mídias Digitais, que capacitará alunos de vários departamentos para trabalhar na área.

revistapontocom – O Ginga é um software 100% nacional. O que isto significa para o país?
Luiz Fernando Soares
– Além de significar uma grande economia para o Brasil, o software é um exemplo de trabalho para outros países. A criação mostra que somos capazes de desenvolver inovações. Hoje, o Ginga é o melhor middleware que existe no mundo, o mais completo no oferecimento e desenvolvimento dos aplicativos interativos.

revistapontocom – Quando, de fato, toda essa interatividade chegará às casas dos brasileiros?
Luiz Fernando Soares
– Como produto comercial, acredito que no primeiro semestre de 2009. Ele poderá ser acoplado em qualquer modelo, ano ou marca de aparelho de tevê. A televisão que for adquirida após a comercialização do produto já virá com o software embutido. O mesmo acontecerá com o celular e com o computador. O set-top box [nome que se dá ao conversor que trará o software embutido] deve custar em torno de R$ 400,00, o que deverá baratear com o tempo. Atualmente, o Ginga está sendo utilizado experimentalmente, no Rio de Janeiro, pelas emissoras de TV.

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Oliver Boezio
Oliver Boezio
15 anos atrás

Apesar de todas estas, presentes e futuras, possibilidades, a TVD esta longe de decolar no Brasil. Vários são os motivos, destacando o custo elevado das TV´s de plasma ou LCD, dos set-top box (para a maioria da população), da facilidade em se possuir a TV a cabo (legal ou ilegalmente) e, principalmente, da internet.
Muitos estudos comprovam o exodo dos jovens para este meio, onde a interatividade é muito maior, a relação é a do “eu com ele (s)” e não de “nós com aquilo”, permitindo uma interação imediata e personalizada, onde o jovem acaba buscando o site com o qual ele mais se identifica.
Os grandes problemas sobre os quais devemos refletir são:
# Em ambas situações (TVD e Web), o conteúdo pode ser permissívo. No segundo talvez, e infelizmente, de forma incontrolável, e no primeiro, um controle direcionado ao consumo, grande problema de nossa sociedade;
# Não se falou mais na questão governamental da “Inclusão Digital”, que em 2005 / 2006 era ponto obrigatório na decisão do padrão de transmissão digital a ser adotado.
Podemos observar que nos países mais desenvolvidos e bem resolvidos quanto a idéia de consumo (principalmente os europeus), a TVD não ganhou muita força, pois as TV´s a Cabo e / ou satélite permitem um mesmo padrão de qualidade que a transmissão digital. A interatividade voltada para o consumo não interessou estas comunidades.
Já em países desenvolvidos e muito voltados para o consumo (EUA e Japão), a TVD vem obtendo bons resultados, principalmente a móvel (o sistema americano, que não favorecia este tipo de aplicação, teve de se adaptar), criando-se muito conteúdo para este tipo de mídia.
Finalmente, percebe-se que o Brasil não está em nenhum destes dois tipos de perfil. Ele possui um perfil bem pecúliar, sendo extremamente consumista, apesar de uma renda muito baixa (tudo facilitado pelas diversas formas de pagamento a perder de vista). Então, a idéia de aplicações em aparelhos de TV´s acaba-se tornando algo secundário, tendo como atrativo principal a qualidade de imagem e som (a própria Rede Globo percebeu isso, tanto que ainda não investiu o que ela, se quissese, poderia investir).

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