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Os céus dos povos originários em cartaz no MAST

“Os céus dos povos originários” é uma exposição virtual constituída por 30 imagens e histórias sobre céus e terras, contadas por crianças e adolescentes de idade entre 5 e 15 anos. Estes são membros de doze povos indígenas, e que residem em 9 estados brasileiros: Fulni-ô (Pernambuco), Guarani-Mbya (São Paulo), Guarani-Nhandeva (Rio de Janeiro), Guarani-Kaiowá (Mato Grosso do Sul), Puri da Mantiqueira (Rio de Janeiro), Manoki e Timbira (Mato Grosso), Tingui-Botó (Alagoas), Tupiniquim (Espírito Santo), Tabajara Tapuio Itamaraty (Piauí), Kariri (São Paulo e Ceará) e Pitaguary (Ceará).

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Entre os meses de setembro e outubro de 2020, o Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST= e o Museu do Índio (MI) – ambos sediados no Rio de Janeiro -, abriram uma chamada pública para receber desenhos de crianças e adolescentes de povos indígenas de todo o país, de modo a contemplar as relações dessas crianças e adolescentes com o céu, sobretudo em meio ao contexto de pandemia.

A motivação inicial deste trabalho era a de aliar as percepções de diferentes povos originários sobre o céu à visão apresentada por crianças e adolescentes de todo o país na Exposição Virtual “O céu que nos conecta”, lançada em junho de 2020 pelo MAST. Os 30 desenhos da atual mostra – organizados em doze salas, conforme o povo originários indígena a que pertence cada criança, – ensinam que as relações entre os povos indígenas e o céu é quase tão variada quanto a própria diversidade de etnias indígenas no país. A opção de nomear e dividir as salas por cada povo participante, ainda que algumas salas apresentem apenas um ou dois desenhos, se deu para reforçar a diversidade entre os povos originários e ressaltar suas particularidades; evitando-se, assim, a ideia estereotipada de “índio” como um grupo único e homogêneo.

Considerando as dificuldades relacionadas ao período de isolamento social, complementadas pelas distâncias, exclusões e acesso limitado à internet que, muitas vezes, já fazem parte da vida atual destas populações, é uma grande alegria ter a participação de 23 crianças e adolescentes, jovens que enviaram, pela internet, com o apoio da equipe do Museu do Índio, os seus desenhos que, além de contar suas histórias, superam muitas dessas barreiras.

Quanto às suas relações com museus, 16 crianças relataram certa familiaridade e proximidade afetiva a este tipo de instituição, e outras 7 contaram que nunca estiveram em um museu, ou que sequer sabem se existe um museu em sua região. Embora haja cada vez mais museus indígenas pelo país, e profissionais desses povos ocupando seus espaços nesses locais, ainda existem grandes desafios a serem alcançados para a ampliação da presença originária nestas instituições: não apenas sendo retratados mas, sobretudo, como agentes produtores de seus próprios conhecimentos.

Quando vistos individualmente, os desenhos das crianças autoras desta mostra incluem representações de céu com muita presença do azul, mas que a transcendem nos verdes das árvores, no marrom da terra e das montanhas, e nas múltiplas cores e curvas de rios. Outros são coloridos pelo fundo monocromático de cartolinas e papel craft, mas repletos de significados. Ao serem observados como um mesmo todo e não de maneira desmembrada, os desenhos mapeiam questões importantes para a continuidade da vida humana neste planeta: as representações de pessoas contemplando a natureza integram céus, terras e gentes na jornada da vida. Os céus raramente são vistos de maneira isolada, e estão sempre em relação com o modo de vida específico de cada povo.

A maioria das participantes desta exposição mora em terras indígenas, onde estão localizadas aldeias cujos próprios nomes, em geral, representam conexão com a natureza. As mensagens enviadas pelas crianças e adolescentes desta mostra em seus desenhos reafirmam a importância da unidade entre terra e céu, natureza, animais e pessoas, e suas relações com as realidades e narrativas. Ao olhar as imagens, percebemos que, para essas crianças, todos os elementos que permeiam o mundo estão relacionados: sem terras, não há céus. E, para que esses mundos coloridos e diversos continuem existindo, é fundamental que esses povos sejam reconhecidos e tenham seus direitos respeitados.

Esta mostra é uma obra aberta, e desejamos, no futuro, ampliá-la com a colaboração de outros povos originários , sobretudo os que, por motivos diversos, não puderam estar presentes neste momento, a exemplo daqueles que habitam as regiões Norte e Sul. Desejamos a todas e todos os visitantes que esta exposição seja apenas o começo de uma experiência engrandecedora, que expanda seus horizontes para novas formas de perceber e existir no mundo.

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