Educação Midiática é resposta à vida digital e desinformação

Direcional Escolas – 09/09/2020

Por Alexandre Le Voci Sayad e Maria Cristina Poli

A realidade é implacável e inegável, como definiu, por linhas tortas, o filósofo norte-americano Charles Sanders Pierce. Nesse sentido, o cenário pandêmico mergulhou as escolas forçadamente na tecnologia, estivessem professores, pais e alunos prontos para isso, ou não.

Os resultados no Brasil são desiguais: segundo pesquisa recente da OCDE, estudantes de regiões distintas abriram até 10 pontos de diferença entre aprender bem ou mal durante o ensino remoto. Os fatores de sucesso foram a capacitação dos professores, participação da família e acesso à tecnologia.

Em outra frente, segundo dados do PISA, os jovens têm cada vez mais consumido notícias pelas redes sociais, de maneira incidental. Em outras palavras, é na desordem, imprecisão e fragmentação dessas mensagens que os estudantes estão enxergando o mundo que os cerca.

Essa combinação de intensa vida online e leitura de mundo mediada pela tecnologia, e regida pela desinformação, afirma a necessidade, dentro e fora da escola, de uma educação voltada às mídias e suas implicações.

A chamada “educação midiática” não é nova, tampouco surgiu por conta dos meios digitais. A educação formal reagiu ao desenvolvimento da comunicação desde a origem do rádio, na década de 1920. Que aparelho era aquele que, assim como a escola, conversava com pais e estudantes dessa vez dentro do ambiente da casa? As práticas educativas que enxergam a comunicação ora como aliada, ora como inimiga, se originam nessa época. O francês Celestin Freinet, pode exemplo, criou a primeira rede de jornais escolares para educar para as mídias e abrir espaço de expressão aos alunos.

Desde então, outras terminologias e vertentes surgiram no mundo. O que chamamos de “educação midiática” hoje é um termo guarda-chuva que abarca os princípios de muitas delas. Trata-se do conjunto de habilidades necessárias para se ler, analisar, produzir comunicação e também exercer a cidadania em tempos ultraconectados. A UNESCO (Órgão das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura) vem resguardado o assunto com o cuidado de uma nova alfabetização necessária, a definindo inclusive como “alfabetização midiática”.

Estão abrigadas sob esse conceito, a fluência e ética digitais, a leitura crítica dos meios e a livre expressão dos estudantes – fatores determinantes para uma educação que se propõe voltada para nosso tempo. A educação midiática tornou-se portanto uma emergência também como política pública. A BNCC (Base Nacional Comum Curricular) abre espaço em diversas etapas de ensino para práticas com mídia; mais explicitamente nas últimas séries do Ensino Fundamental há o campo chamado “jornalístico-midiático”. Países líderes no desenvolvimento de tecnologia, como a Coréia do Sul, passaram recentemente a colocar o tema como prioridade da agenda educacional.

Por outro lado, a desinformação e habilidades digitais estão longe de serem questões relevantes apenas para crianças e jovens. Aprender é uma tarefa para toda a vida, e no que tange a tecnologia, a obsolescência do que aprendemos é quase semanal. Assim, a própria UNESCO posiciona o exercício da educação midiática como uma função também dos veículos de comunicação.

Alexandre Le Voci Sayad é jornalista e educador, diretor da ZeitGeist. Apresentador do programa Idade Mídia, do canal Futura, também é colunista de A Gazeta do Povo e autor do livro “Idade Mídia – A Comunicação Reinventada na Escola”, entre outros. Atualmente serve como chairman da aliança mundial da UNESCO para educação midiática (GAPMIL). É membro do conselho consultivo do Educamídia e do conselho científico da revista acadêmica Comunicar (Universidad de Huelva, Espanha).

Maria Cristina Poli é jornalista com mais de 35 anos de experiência nas principais redes de televisão (TV Cultura, Globo e Band). Repórter especial e âncora de telejornais. Comandou o Vitrine, o primeiro programa especializado nos meios de comunicação, na TV Cultura.

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