Por Marcus Tavares
Terminam nesta sexta-feira as inscrições para a Mostra Geração, do Festival do Rio/2016. Podem participar do evento não universitários com até 18 anos e que estejam comprovadamente matriculados na escola ou participando de projeto educativo. Os trabalhos devem ser totalmente produzidos por crianças e adolescentes. O evento este ano será realizado entre os dias 1 e 14 de outubro.
À frente da curadoria da Mostra, estão as bravas Felicia Krumholz e Bete Bullara, que há anos vêm se dedicando ao evento e à causa da mídia de qualidade para crianças e adolescentes. A revistapontocom conversou com elas sobre a edição deste ano. Por conta da atual crise brasileira, avisam que tiveram que cortar custos e propostas, mas a qualidade, garantem, será a mesma dos anos anteriores. Em entrevista, dizem que produção dos jovens vem, a cada ano, surpreendendo. Não só o produto final em si, mas a reflexão sobre o que fazem.
Acompanhe a entrevista:
revistapontocom – Qual é o balanço de todos esses anos à frente da organização da mostra?
Felicia Krumholz e Bete Bullara – Difícil avaliar, pois em tantos anos novas gerações surgiram. Muita gente. Mas pudemos perceber que a discussão sobre a linguagem e a estética cinematográfica rendeu. E, é claro, quanto mais gente fazendo, sempre temos mais bons resultados, né? Mas ainda é uma longa estrada. Ainda precisamos de muito trabalho para chegarmos a um patamar de qualidade, para conseguirmos uma boa expressão nessa linguagem.
revistapontocom – A edição deste ano é especial. Por quê?
Felicia Krumholz e Bete Bullara – De uma certa forma sim. Porque faremos o Festival em um ano de crise. Tivemos que cortar muita coisa para não perder a qualidade. Mas é exatamente aí que o nosso jeitinho brasileiro vai sendo mais criativo e vai inventando coisas.
revistapontocom – O que há de novidade?
Felicia Krumholz e Bete Bullara – Bom, a sessão que chamamos de pré-encontro de Educadores já está marcada: será dia 31 de agosto, às 18h em parceria com o projeto Viajando com Cinema que acontece no Oi Futuro Ipanema. As outras novidades ainda estamos fechando – falta bater o martelo para poder divulgar direitinho.
revistapontocom – Qual é a avaliação que vocês fazem da produção nacional dos curtas?
Felicia Krumholz e Bete Bullara – Como dizem: é exercitando que as coisas vão melhorando. Temos visto muito trabalho bacana inclusive daqueles que um dia vieram mostrar seus primeiros passos no Programa Vídeo Fórum da Mostra Geração.
revistapontocom – Essa evolução é fruto/resultado de quê?
Felicia Krumholz e Bete Bullara – Acho que é o resultado de um trabalho conjunto. Festivais, mostras etc se multiplicaram pelo país afora. Além disso foram criadas várias escolas de cinema (sejam elas formais ou informais) e tivemos também a implementação de políticas públicas e editais de incentivo à produção e exibição do curta-metragem. Depois tivemos, em 2013, os movimentos de rua onde esses jovens mergulharam de cabeça e conseguiram furar o sistema vigente de comunicação, aproveitando a potência das mídias sociais. Nesse momento, tiveram o real entendimento de como seus pontos de vista podem ser divulgados.
revistapontocom – Neste sentido, a quantas anda hoje o mercado de produção audiovisual voltado para os jovens?
Felicia Krumholz e Bete Bullara – Acho que o produto audiovisual brasileiro aumentou bastante em quantidade e melhorou em qualidade, mas ainda é pouco e, infelizmente, dominado pelo que vem de fora!
revistapontocom – E o que dizer da audiência jovem? Mudou?
Felicia Krumholz e Bete Bullara – Acredito que a audiência mudou e que o acesso se deu com a entrada das novas tecnologias na vida das crianças e dos jovens. Na realidade, hoje eles já nascem as dominando. Possuem um conhecimento do mundo audiovisual muito maior do que nós tivemos. A diferença é que muitas vezes são engolidos pelo que é produzido massivamente. Quando conseguimos chegar perto e conversar sobre questões de linguagem, eles pegam o assunto muito rápido, conseguem entender e dar exemplos com materiais que viram anteriormente. Mais seletiva? Sim. Mais exigente? Sim, principalmente depois de uma pequena conversa sobre o que pode estar por trás daquilo que viram. Mais difícil de conquistar? Eu diria que não. Basta você ter um produto de qualidade que você conquista todo mundo!