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A crise ambiental e injustiças sociais

Artigo do professor Argemiro Procópio Filho.

Por Argemiro Procópio Filho
Professor da Universidade de Brasília e doutor em Sociologia pela Universidade Livre de Berlim, Alemanha. Artigo originalmente publicado no site da UNB.

Mudanças climáticas também resultam do custo ambiental da monocultura sojeira, da pecuária, do latifúndio canavieiro, do abuso do consumo da água, da desflorestação e da desertificação dos cerrados. A diminuição dos recursos hídricos em várias bacias hidrográficas sinalizam perigos. A devastação do pantanal, do cerrado, da mata atlântica, dos lavrados setentrionais e da Amazônia em oito países da América do Sul se deve tanto a produção mineral quanto a pecuária e atividades do latifúndio monocultor.

A modernidade agrícola e o desenvolvimentismo de segunda mão estão cheios de idiossincrasias. A desindustrialização da pauta exportadora nacional anda de mãos dadas com a “commoditização” da economia nacional.

A bovinopirataria permitiu a países sem tradição pecuária se transformar nos maiores exportadores de calçados. O contrabando do couro deslocou a produção de sapatos e roupas fabricadas com tecido epitelial do Brasil para a China e Vietnam. O cálculo biliar bovino saído ilegalmente do Brasil abastece indústrias farmacêuticas de alta tecnologia na Europa e Ásia.

O contrabando do ouro, de metais raros e pedras preciosas essenciais às indústrias mais avançadas, deixa em seu rastro uma impagável destruição. A desindustrialização trouxe de volta artigos supérfluos que delinearam o novo consumismo. A produção de máquinas e de automóveis abriu estradas. O “rodoviarismo” se acompanhou de intensiva desflorestação. Aliou-se a lógica da acumulação alimentada pelo capital amoral, sustentada pela mineração e queimadas que viabilizaram a produção de grãos e pastagens.

A sustentabilidade do apartheid social no derradeiro país do mundo a abolir a escravatura negra está casada com a degradação social. Ela foi arquitetada tanto por governos de direita quanto por ditos governos de esquerda. Resistente a mudanças estruturais a política ambiental brasileira nos últimos cinquenta anos se faz de camaleão. Se pigmenta de verde, amarelo ou vermelho sem mudar o corpo. Aqui as políticas ambientais não se acompanham de programas de transferência de renda para resgatar as dívidas do sistema capitalista para com a população pobre. A existência de um pacote de leis injustas a favor da concentração da renda na elite do serviço público desmoraliza os Três Poderes.

A injusta repartição da renda agrava a crise climática. A contaminação das terras e das águas resulta da acumulação das riquezas dos donos do poder e da pobreza dos excluídos. As mudanças epidérmicas e o continuísmo político tornam insolventes as dívidas socioambientais. Quantos hectares de florestas se queimam e quanta água se gasta na produção de 60kg de soja? Quanto se necessita para que o imposto sobre esse grão garanta o salário e mordomias, entre outros de juízes e parlamentares.

É bom perguntar quem arcará com a conta da água virtual. Os cuidados para mitigar danos oriundos da diminuição dos índices da evaporação fluvial ainda não constam nas agendas ambientais. A névoa úmida dos rios, com partículas trazidas e levadas a milênios por ventos, parece o elixir da vida e do que nela se respira.

Forças eólicas transportadoras de grãos de areia também carregam umidade. Correntes úmidas e quentes ora seguem para a parte setentrional continental, ora para o universo meridional patagônico, corredor natural para a Antártica. Ou seja, o descaso para com as questões ambientais é causa da desertificação.

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