Por Marcus Tavares
Editor da revistapontocom
Alunos do Ensino Fundamental das escolas municipais do Rio que funcionam em turno único (espécie de período integral de sete horas), terão uma disciplina a mais neste ano letivo: Ensino Religioso. A medida foi sancionada pelo prefeito Eduardo Paes em outubro.
Segundo o projeto, os pais dos alunos, se quiserem, poderão escolher qual doutrina será ensinada. Na lista: católica, evangélica/protestante, afro-brasileira, espírita, judaica, islâmica ou oriental. Para os estudantes cujos responsáveis não optarem, a Secretaria de Educação vai oferecer, nos mesmos horários, o ensino de Educação para Valores. O projeto é polêmico.
Reitero que o Estado é laico e concordo com a velha máxima popular de que religião não se discute. Além disso, acho que oferecer para as crianças, numa rede pública de ensino, doutrinas em separado não contribui para uma boa constituição de conhecimentos e valores. Não ajuda em nada para o reconhecimento e mais ainda para o respeito a todas as crenças. Pelo contrário, por mais que haja boas intenções na proposta, torna a religião uma turma, um time, um grupo. Na verdade, vários grupos dentro da mesma escola. Segrega em vez de unir, o que não é pedagógico.
Não sou contra nenhuma religião, muito menos contra a religiosidade das pessoas. Creio que todos têm de ter a sua fé. E aprender cada vez mais sobre sua doutrina é importante. Mas não cabe à escola pública ensinar, ainda mais de forma separada. Se fosse pai de algum estudante da rede municipal, optaria pela educação para valores. Isto, sim, se faz necessário e urgente. Um espaço e tempo na escola em que todas as crenças, não separadas, mas juntas, podem e devem estar presentes para embasar valores, como respeito, amor ao próximo e solidariedade. Gostaria de entender mais qual seria o conteúdo desta proposta. Talvez esteja aí um caminho mais acertado, sem proselitismo, é claro.
Os preconceitos religiosos, por aqui, existem, sim, mas, realmente, são ínfimos se pensarmos nas guerras que até hoje abalam outros países. Mesmo assim há de se ter cuidado com a mistura entre política, religião e educação. Principalmente quando falamos de escola pública, dinâmica que só professores, alunos e funcionários, que lá estão, conhecem.
Gostaria muito de entender o que vem motivando os gestores de nosso país a mexerem com esse tema e relacionarem cada vez mais a escola a religiões. A própria religiosidade do gestor, suas crenças? Busca de aprovação das “bancadas religiosas”?
Me parece absurdo pensar que, ao mesmo tempo em que projetos como esse são implementados, acontecem coisas como o recente decreto no estado de Goiás, que diminui a carga horária das disciplinas de Artes, Filosofia e Geografia.