Por Rafael Parente
Subsecretário de Novas Tecnologias, da Secretaria Municipal de Educação do Rio
Artigo publicado primeiramente no Portal Rioeduca em 13/8/12
A globalização, a internet e outras tecnologias têm impactado a forma como pensamos, agimos e nos relacionamos. Só em 2010, mais informação foi gerada do que nos 5000 anos anteriores. Até 2020, a quantidade de informações digitais crescerá 44 vezes. Diferentemente de seus pais e avós, os alunos de hoje mudarão de emprego mais de 10 vezes antes dos 40 anos e provavelmente exercerão funções que ainda não foram criadas.
Para exercer essas novas funções com competência, lidar com novas tecnologias na produção ética e responsável de riquezas, navegar funcionalmente em um novo mundo, com a responsabilidade de aproveitar oportunidades e enfrentar desafios, nossas crianças e jovens precisam ter, hoje, uma formação excepcional. Eles precisarão ter auto-confiança, se adaptar em diferentes contextos, construir relacionamentos rapidamente e virtualmente, utilizar bem sua criatividade nata e empreender. Precisarão compreender suas forças e fraquezas, emocionais e intelectuais, seus direitos e deveres na vida em comunidade e desenvolver suas potencialidades ao máximo. Precisarão ser autônomos e solidários, compreendendo nossos avanços culturais e, ao mesmo tempo, não só tolerando, mas valorizando diferenças.
No entanto, tivemos um atraso histórico no nosso desenvolvimento educacional e nossos sistemas educacionais estão completamente ultrapassados. Nossas salas de aula se parecem com aquelas de 1890, quando os primeiros sistemas de educação pública do mundo foram concebidos para impulsionar a era industrial. Na época, a instituição Escola foi planejada como uma fábrica de produzir operários em massa, de forma impessoal, padronizada e estimulando a conformidade. Esse sistema é completamente incongruente com o tipo de escola e de processo de aprendizagem que precisamos. Cada aluno é único e aprenderá mais e melhor se estiver engajado, interessado e motivado. O processo de educar, de desenvolver competências e habilidades, é, essencialmente e inevitavelmente, pessoal, social, acontece num contexto específico, precisa de tempo para assimilação e requer a construção ativa e a associação de ideias.
Vejam o infográfico no final desta postagem e o vídeo abaixo para entender como as novas tecnologias já estão modificando a educação pelo mundo.
Com esse contexto em mente e levando em consideração nossos avanços tecnológicos e nas neurociências, decidimos começar um debate que leve à reinvenção da Escola com o GENTE – Ginásio Experimental das Novas Tecnologias Educacionais. O objetivo é chegar a um modelo que coloque o aluno no centro do processo de aprendizagem, se aproprie integralmente das novas tecnologias educacionais e que possa ganhar escala.
Algumas propostas iniciais são:
1) Acabar com a separação por anos, turmas, salas de aula e o conceito da repetência. Não faz sentido ter um grupo de pessoas completamente diferentes numa mesma sala e esperar que todos consigam ter uma formação semelhante, como também não faz sentido reprovar crianças e jovens e fazê-los rever todas as aulas e todos os conteúdos. Cada aluno teria o seu itinerário formativo e saberia exatamente as habilidades que já desenvolveu e as que ainda precisa desenvolver. No lugar de salas de aula com carteiras, haverão grandes espaços com mesas para grupos, sofás e tapetes.
2) Tablets, smartphones e a Educopédia substituirão livros e cadernos. O conteúdo, as habilidades e as competências serão desenvolvidos nas aulas digitais. As provas serão aplicadas pela Máquina de Testes, a correção será automática e os resultados serão imediatos. Além das competências cognitivas, também desenvolveremos e avaliaremos as competências não cognitivas.
3) O professor terá um novo papel, o de arquiteto que garante a personalização do processo de aprendizagem e que nenhum aluno está sendo deixado para trás. O professor também será o mentor de um grupo de alunos e o orientador de projetos transdisciplinares.
4) Os alunos participarão de atividades individuais ou em grupos pequenos, de acordo com seu desempenho acadêmico, sua responsabilidade e sua autonomia. De acordo com o nível de autonomia e responsabilidade, eles poderão fazer mais ou menos opções, inclusive de que ou quantas aulas relacionadas às disciplinas participarão, quantas eletivas e quantos clubes.
5) A máquina de testes será um sistema de avaliação dos alunos que cobrirá, a médio prazo, todas as disciplinas, de 1º a 9º ano. Em fevereiro de 2013, o sistema já terá provas de Português, Matemática e Ciências, do 5º ao 9º anos. Por meio de um banco de questões, preparadas por cerca de 100 professores da rede municipal, os alunos farão provas em ambiente digital. Todas as questões aplicadas pelo computador serão de múltipla escolha, gerando um resultado imediato. O sistema será usado para as avaliações bimestrais, que servem como base para o acompanhamento do desempenho das escolas municipais. Os alunos do GENTE usarão a máquina de testes frequentemente, ao final de cada aula da Educopédia. Avaliações diagnósticas, auto-avaliações de competências e habilidades não-cognitivas também serão realizadas nela.
6) Projetos transdisciplinares serão desenvolvidos pelos alunos semestralmente a partir de uma situação-problema ou uma pergunta para digestão e aplicação do conhecimento. Serão uma forma de educação “hands on” relacionada a áreas diversas. Nesses projetos, os alunos terão de analisar dados reais, trabalhar em grupos pré-definidos e atuar como agentes transformadores de suas realidades.
Há, no momento, 13 instituições parceiras apoiando o projeto. Elas são: Ensina!, Fundação Lemann, Fundação Telefônica, Infoglobo, Intel, Instituto Ayrton Senna, Instituto Conecta, Instituto Natura, Microsoft, MSTech, Tamboro e UNESCO. Todos os diretores, professores e alunos (de 7o a 9o anos) estão convidados a contribuir com suas opiniões para esse processo de co-criação de um novo conceito de escola.