Por Cristiane Parente
Jornalista, mestre em Educação/UnB, Sócia-Fundadora da Associação Brasileira de Pesquisadores e Profissionais em Educomunicação (ABPEducom) e coordenadora Executiva do Programa Jornal e Educação da Associação Nacional de Jornais
Gostaria que este artigo fosse lido pelos vereadores eleitos e novos gestores municipais como um convite à reflexão sobre uma nova educação. Não a educação conteudista, das fórmulas decoradas para o vestibular, mas uma educação que proporcione aos alunos aprender sobre valores, ética e respeito à diversidade e ao outro. Uma educação que valorize o professor e sua formação; que transforme a escola em um local de prazer, de troca de afetos e experiências.
É preciso repensar a educação de forma que ela leve em conta que o que aprendemos está cada vez mais fora dos muros escolares, mediatizado pelas mensagens que nos chegam pela enorme quantidade de aparatos tecnológicos, telas, sons, vídeos, imagens que as crianças têm acesso desde que nascem e que, por isso mesmo, devem fazer parte de seu currículo. Uma aprendizagem crítica, criativa, criadora, que as proporcione não só a experiência de aprender a selecionar melhor as informações que precisam, a pesquisar, a aprender a aprender, e terem a possibilidade da autoria, de serem narradoras de sua própria história e seu lugar, sujeitos que criam um novo roteiro para suas aprendizagens e tornam-se mais críticos diante delas.
Costumamos acreditar que toda palavra descreve o mundo de forma objetiva e a consequência é naturalizarmos o mundo. Cabe a uma educação de qualidade mostrar, por exemplo, como se dá o processo de edição do mundo feito pelos meios de comunicação, que também possuem importante papel na democratização das informações. É importante que a escola trabalhe com os alunos a desnaturalização da mídia enquanto espelho da realidade e que o novo gestor trabalhe com a Educomunicação, Mídia-Educação ou Educação para a Mídia, enquanto política pública, como uma nova alfabetização indispensável no contexto atual.
A partir daí, trabalhar a autoria do aluno, a criação de seus próprios jornais, programas de rádio, vídeos, para que construa espaços de diálogo, entenda quem é, de onde é e como pode melhorar o contexto em que vive a partir do exercício de um pesquisa, crítica e cidadania.
O direito a um lugar é também o direito de comunicá-lo, é um direito à comunicação e a espaços de comunicação/representação, que deve ser garantido às populações, como forma de expressão, de criatividade, de reflexão, criticidade, de ser seu contador de histórias, narrador e cronista de um tempo, de heróis e anti-heróis, personagens anônimos que constroem juntos a alma e as experiências desse lugar.
Neste momento em que a sociedade vai às urnas decidir que caminhos deseja para sua cidade, que este artigo seja também um convite para que reflita sobre seu papel na cobrança e garantia do direito à Educação, que leve em conta não só a inclusão, mas a equidade e a qualidade.
Publicado no Jornal O Povo