Por Marcus Tavares
Texto publicado originalmente no Jornal O DIA
A Agência Nacional do Cinema (Ancine) acaba de divulgar o Plano de Diretrizes e Metas para o Audiovisual. O documento foi aprovado, ano passado, pelo Conselho Superior do Cinema, órgão formado por representantes de nove ministérios e da sociedade civil, incluindo cineastas e profissionais do mercado. O conselho tem a missão, segundo o próprio texto, de formular as diretrizes que determinam a ação da Ancine em sua meta de fomentar e regular o setor audiovisual brasileiro.
O documento traz série de dados e perspectivas do mercado, estabelecendo 12 diretrizes para ampliar o acesso da população aos conteúdos, capacitar profissionais e impulsionar a competitividade do setor. O projeto afirma que “até 2020, o Brasil pode se transformar no quinto mercado do mundo em produção e consumo de conteúdos audiovisuais para cinema, TV e novas mídias”.
Creio que isso possa, de fato, acontecer. Mas penso que este ‘quinto mercado’ parece que será bastante tímido, para não dizer quase nulo, em relação a uma produção com qualidade para o público infantil, sejam os exibidos nas TVs comerciais e ou nas telas do cinema. Digo isso pois o documento sequer faz menção à potencialidade e à necessidade de se produzir para as crianças.
A única ressalva que o plano faz e que de alguma forma repercute no público infantil está expressa na Diretriz 12, que objetiva ‘ampliar a participação do audiovisual nos assuntos educacionais’. Traduzindo: pretende-se equipar as escolas com produções audiovisuais, inserir formação em linguagem audiovisual no sistema regular de ensino, implantar videotecas e ampliar a produção audiovisual para uso pedagógico. O que a diretriz defende, portanto, é a produção de conteúdos educativos e ou didáticos. Importantes? Sim. No entanto, são produtos que veem as crianças na condição de estudantes, na escola, e não como crianças.
Mais uma vez o direito das crianças de ter acesso a uma mídia de qualidade é negligenciado. Mais uma vez constata-se que o tema está presente no discurso, mas longe, muito longe, da prática. Sigam as crianças assistindo a produções estrangeiras…