Por Nei Alberto Salles Filho
Ccoordenador do Núcleo de Educação para a Paz da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG)
Escolas públicas e privadas têm, entre suas demandas atuais, a questão das múltiplas formas de violência. Desde a violência direta das incivilidades (falta de respeito, grosseria) até a violência estrutural (desigualdades sociais) que perpassa as relações humanas, interpessoais e intergrupais, o cotidiano das convivências Escolares pede novas formas de intervenção.
Apontaremos algumas reflexões da Educação para a paz nas Escolas. Antes, é importante reafirmar que a Educação não se limita mais à mera instrução. No século 21, a única Educação possível é aquela que entende o Aluno como ser humano, com suas possibilidades, limites, diferentes realidades e suas contradições.
Nesse contexto, crescem os projetos relacionados à Educação para a paz nas instituições Escolares. Tais projetos têm alguns pontos a destacar. Primeiro, são considerados como um “tema transversal”, ou seja, não são fragmentados em uma “aula” de paz. É um movimento da Escola, pensado desde a equipe de gestão, explicitado no projeto pedagógico, declarando que a Escola, dentro da comunidade, assume o desafio do enfrentamento às violências, valorizando as convivências, entendendo que as relações humanas são essenciais para o aprendizado curricular e dos elementos da Educação integral, como cidadania crítica, ética, solidariedade e respeito.
O segundo ponto dos projetos de Educação para a paz é o foco em uma pedagogia dos valores humanos. As relações não violentas dependem de valores de convivência sólidos, claros e construídos no coletivo. Insistimos que não basta falar de valores, é necessário vivê-los no cotidiano da Escola. Valores universais precisam ser refletidos e dialogados no dia a dia e não tomados como “cartilha”. Construir ou reconstruir valores é fundamental.
Aliás, o diálogo é o elemento chave que mostra a terceira dimensão da Educação para a paz nas Escolas, que é o entendimento pedagógico do conflito. Se conflitos são inerentes às relações humanas, entendidos como espaço onde pessoas ou grupos têm perspectivas diferentes, podemos dizer que os conflitos são traços marcantes das instituições educacionais, devido à diversidade da sociedade. Em Educação, os conflitos precisam ser pensados como oportunidades de crescimento. Assim, práticas restaurativas e mediação de conflitos passam a figurar na agenda educacional atual.
Igualmente importante, o quarto ponto é entender que projetos de Educação para a paz não podem ser pensados apenas como o contrário às violências maiores na Escola. É um erro supor a Educação para a paz como antídoto milagroso para a violência, assim como outro erro é acreditar que desenhar pombinhas brancas e cantar belas músicas algumas vezes ao ano terão algum efeito. Paz não é o apenas o contrário de guerra ou de violência agressiva. Paz é o fortalecimento de situações positivas e saudáveis de convivência, expressa por uma civilização educada, crítica e consciente, que aos poucos substitui situações não desejadas por valores e atitudes desejadas, ou seja, mais respeitosas, solidárias, responsáveis – em uma palavra, humanas.
Se a humanidade foi tão fecunda para aprender tantas formas de violência, podemos aprender igualmente a não violência. As instituições educacionais são muito importantes nesse caminho!