Baton: o que está por trás do não e do sim

Leia a análise do professor Evandro Vieira Ouriques sobre o novo comercial do chocolate Baton.

Por Evandro Vieira Ouriques
Coordenador do NETCCON.Núcleo de Estudos Transdisciplinares de Comunicação e Consciência.Escola de Comunicação.UFRJ e líder de seu Grupo de Pesquisa

Se você me permite, compartilho como eu vejo o novo comercial da Garoto para o produto Baton. O que está dito nele é que tudo de criativo, de livre, de espontâneo, de infantil, de experiência do mundo é/torna-se proibido, torna-se o lugar do não, e isto dito pela mãe, o lugar da origem, da origem da criança em sua relação específica com sua mãe e arquetípica com a mãe sistêmica, com a qual ela tem a experiência da unidade original. E experiência na qual ela forma, como eu disse em outro lugar, digamos assim, a base de sua identidade.

Portanto a mãe torna-se neste comercial o lugar do não (que são quantos hein gente? Uns 50, em coro crescente, talvez ao longo do comercial) impedindo brincadeiras ou experiências de vida.

Todos estes nãos são contrapostos a apenas um sim. O de, pela Mãe, dar um Baton, e pela Criança, de comer Baton. Por gentileza, observem, nenhum destes nãos é dirigido a qualquer desvio de comportamento, vale dizer, alguma maneira de se comportar da criança que seja antissocial, não ética, não solidária. Apenas ações típicas da criança que são interditas por um não seco, sem diálogo, sem conversa, sem explicação alguma.

Operação psicopolítica da mesma ordem, por exemplo, que a mesma criança enfrenta na escola. Onde suas perguntas não são respondidas. Onde sua voz não é escutada. Apenas interditada e compensada, por exemplo, por um batom ou por um carro, quando passa para faculdade depois de ter estudado um monte de coisas sem saber porque nem para quê e sabendo que irá esquecer já no dia seguinte.

Se eu fosse adiante eu diria que vejo neste comercial a pedagogia do trabalho moldado pelos rendimentos: faça o que não gosta, aja ao contrário dos valores que fundaram a sua vida quando você era criança, pois a vida “é [seria] assim”; e consuma.

Usa-se portanto a crítica à desmesura gerada pela dificuldade de dar limites, tão comum em determinadas décadas anteriores, para gerar, por um lado, mais repressão e, por outro, a título de compensação, mais desmesura de consumo.

Outros artigos de Evandro Vieira Ouriques em https://ufrj.academia.edu/EvandroVieiraOuriques

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