Do Público PT
Jornal de Portugal
Partilhar fotografias nas redes sociais é uma tarefa delicada. Algumas fotos são só para os olhos de família ou amigos e não devem ir parar aos ecrãs dos colegas de trabalho. Mas um estudo da Universidade de Birmingham, no Reino Unido, sugere que mesmo fotografias aparentemente apropriadas para toda a gente podem ter um efeito diferente do esperado.
A experiência centrou-se no Facebook e analisou quatro variáveis: o tipo de relação entre quem partilha e quem vê a fotografia (parceiros amorosos, amigos, colegas); a qualidade dessa relação do ponto de vista de quem vê a foto (por exemplo, se este classifica a relação como muito ou pouco íntima); a frequência com que as imagens eram vistas; e o respectivo conteúdo.
Uma das conclusões: nos casos em que o parceiro do utilizador partilha muitas fotos de amigos, o utilizador tende a classificar a relação como menos íntima. Mas se o parceiro publica fotos da família, a relação tende a ter uma classificação mais elevada do ponto de vista do apoio emocional. Outra conclusão: nos casos em que os amigos próximos partilham mais auto-retratos, os utilizadores dizem ter mais intimidade com aqueles amigos.
A experiência não prova que a partilha dos vários tipos de fotografias provoca uma mudança na qualidade da relação, observou ao PÚBLICO o investigador responsável pelo estudo, David Houghton, que também envolveu investigadores da Universidade de Edimburgo e da Universidade de West of England, em Bristol. “O trabalho representa alguns primeiros passos para perceber as especificidades de partilhar fotografias normais, ou seja, aquelas que não são deliberadamente ou obviamente ofensivas, mas o tipo de fotos que se vê todos os dias no Facebook”. O estudo apresenta associações entre variáveis, explicou Houghton, notando serem necessárias mais experiências para estabelecer eventuais relações de causalidade.
A experiência envolveu 508 utilizadores do Facebook de vários países, entre os quais o Reino Unido, EUA, Canadá, Filipinas, Itália e Alemanha, numa amostra que não é representativa dos 1100 milhões de utilizadores daquela rede social. O objectivo era estudar o fenómeno da partilha de fotografias através de uma estratégia de precaução usada por utilizadores das redes sociais e a que os investigadores chamam “mínimo denominador comum”: consiste em publicar apenas aquilo que, à partida, é apropriado para ser visto por qualquer pessoa.
Aos participantes foi pedido que classificassem a qualidade da relação que tinham com pessoas cujas fotografias viam no Facebook através de duas variáveis – intimidade e apoio emocional –, às quais atribuíam uma pontuação. Os investigadores também registavam o tipo de relação entre quem partilhava a fotografia e quem a via: parceiro, amigo próximo, familiar e colega (a categoria genérica “amigo do Facebook” foi usada como grupo de controlo).
Os participantes usaram ainda uma escala para determinar a frequência com viam as fotografias partilhadas pelos outros . E, por fim, as fotografias foram classificadas em vários grupos: auto-retratos, imagens de amigos, de família, de eventos, paisagens, objectos e animais.
“A principal mensagem do nosso estudo é que há relações positivas e negativas entre a partilha de fotografias e a qualidade do relacionamento [entre quem partilha e quem vê]”, sintetiza Houghton. Para o investigador, este fenómeno pode ser importante para lá da gestão da presença online individual e deverá ser tido em conta por empresas que planeiam acções de promoção no Facebook que impliquem que os utilizadores partilhem fotografias com produtos ou referências a marcas.
A efemeridade daquilo que se passa no Facebook também foi notada por Houghton: “Sugerimos que estes efeitos são evidentes, mas não necessariamente permanentes”.