Por William Farias – do Observatório da Imprensa
Estudante de Jornalismo, Brasília
Por que conversar com a sua avó, escutar todas aquelas histórias de 1930, de quando o Brasil não era industrial, ou até mesmo da época da ditadura militar, se você pode conversar com seus amigos sobre o novo hit do momento, o último episódio da série mais assistida no mundo, ou mesmo trocar fofocas sobre o contexto da escola ou faculdade? Nessa comparação chegamos a uma conclusão mortal: a conversa com a vovó é uma interação em extinção.
A conexão web 24 horas, realizada pelos celulares e derivados, proporciona imersão no ambiente online. “Todos conectados”, esse é o lema. Facebook, Twitter, Instagram, Whatsapp! Todos os amigos reunidos em uma tela de cinco polegadas, em qualquer lugar, a qualquer momento. A sociedade mergulha de cabeça na plataforma digital e, consequentemente, substitui realidades, a tangível sensorial pela abstrata virtual.
Atualmente, é comum ser ignorado. As pessoas até têm se adaptado a essa condição. Em um jantar com o filho, por exemplo, o pai se vê em um monólogo, pois o jovem não desgruda da tela de retina. Pior ainda é quando a situação é invertida. Não é mais um crime ser ignorado. Não é mais motivo para chateação. “Pode falar, eu tô te ouvindo”.
Sentimentos e princípios
As ferramentas de comunicação de hoje proporcionam ao homem uma facilidade de comunicação sem precedentes. Podemos conversar com um amigo na China, nos Estados Unidos ou na Jamaica em questão de instantes. Só pressionar um botãozinho! A questão que paira, porém, é se essa comunicação mais rápida e fácil é, de fato, tão efetiva na manutenção e criação de vínculos interpessoais.
Zygmund Bauman, sociólogo polonês, defende o enfraquecimento dos laços interpessoais, em virtude da realidade moderna. É o que ele define como “sociedade líquida”. De acordo com Bauman, trata-se de uma sociedade que está em constante mudança. A transformação ocorre todos os dias. Assim como o estado líquido dos elementos, nunca está imóvel. É impossível não trazer a análise social de Bauman para o contexto virtual, até mesmo porque ele próprio o fez em seu livro 44 Cartas sobre o mundo moderno líquido. O sociólogo diz que os laços hoje são formados em rede e, por consequência disso, são mais fracos. A ideia é de que a rede funciona como uma eterna atividade de conectar e desconectar. “O atrativo da amizade de Facebook é que é fácil conectar, mas a grande atração é a facilidade de desconectar.” Bauman é brilhante ao dizer que a ruptura de relações na internet é a grande vantagem. Ela não exige quase nada do agente, evita traumas, discussões, situações embaraçosas. A ruptura é um clique.
Nesse sentido, levanta-se um questionamento claro: a vontade de se conectar com todos é proporcional a vontade de não estar efetivamente conectado? O homem decidiu desconstruir as relações profundas para viver em um mundo de contatos múltiplos e rasos? É certo que o homem acompanha as tendências do momento histórico em que vive. No entanto, a velocidade dos fatos, a evolução da comunicação e a dinâmica da vida moderna têm contribuído para uma insignificação de sentimentos como o amor, amizade e princípios fundamentais sobre os quais nossa realidade foi construída.
Adestramento criativo
Pesquisa do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI), mapeou como crianças e adolescentes têm usado a internet. De acordo com o CGI, 70% dos jovens entre 9 e 16 anos têm perfis em redes sociais. Além disso, 68 % destes afirmam que usam a web para navegar em redes sociais. A maioria destas crianças e jovens acessa a internet pelo computador, porém 21 % deles já usam o celular para ficar conectado. A pesquisa estudou o ano de 2011. Então, é possível supor que o número de crianças e jovens hiperconectados tenha crescido. Principalmente se considerarmos que a venda de smartphones cresceu 78% em 2012. Foram vendidos 16 milhões de celulares inteligentes em todo o Brasil, de acordo com a consultoria de tecnologia IDC.
O número assusta. Quem não tem um smartphone não está de acordo com a sociedade. O sujeito que não tem ferramentas para compartilhar fotos, comentários, dividir opiniões, curtir atualizações dos amigos, vive à margem. Tenho a liberdade de usar o neologismo científico de que estes sujeitos sobrevivem na periferia virtual. Seja criança, adolescente, adulto ou idoso, ninguém quer ficar fora dos padrões sociais. No último dia 21 de abril, minha avó, de 78 anos, ganhou um iPad. Mesmo ela não tendo intimidade com o aparelho, ficou muito feliz por enfim, poder sair da periferia. No dia seguinte, ela já tinha acessado o perfil no Facebook, criado um no Instagram e comentado as fotos de seus queridos netos.
Por outro lado, tenho uma prima que não completou um ano e já está conectada. Prender atenção de criança dessa idade não é fácil, mas ela já fica algumas horas em frente ao iPad do pai. Brinca com aplicativos que estimulam a fala e o raciocínio. Todos, em tese, muito educativos. Temo que seja, no entanto, um contato perigoso. Uma dependência!
Os aparelhos roubam das crianças a capacidade de abstrair, de inventar e imaginar! Tudo já está pronto para ser usado, não se necessita de nenhum esforço criativo. Imagine como serão essas crianças na fase adulta: extremamente inteligentes, embora sem nenhuma capacidade criativa. Adultos adestrados pela modernidade tecnológica.