Por Marcus Tavares
2012 não foi diferente dos outros anos. Pelo menos, no que diz respeito à produção audiovisual para crianças, no contexto da TV aberta comercial no Brasil. Poucas realizações de fato foram pensadas para o público infantil. Algumas que já existiam foram inclusive retiradas da programação diária, como a TV Globinho, da Rede Globo, que, na verdade, exibia apenas desenhos animados enlatados. A justificativa de não produzir conteúdo próprio brasileiro para a criança foi a mesma de sempre: altos custos combinados com a falta de anunciantes/patrocinadores diante de um contexto de pressão legislativa pelo fim da publicidade infantil na tevê.
Na contramão, o SBT talvez tenha sido o canal que mais se destacou, ao reeditar a novela infantil Carrossel. No ar às 20h30, a trama ganhou a atenção das crianças e aumentou o lucro da emissora, mostrando que o filão infantil não morreu e que pode ser um bom investimento, embora esteja batendo de frente com a legislação que proíbe o merchandising e os movimentos que defendem o fim da publicidade infantil. Glen Valente, diretor comercial do SBT, disse à imprensa que a novela deve faturar R$ 100 milhões com anunciantes, venda de CDs e licenciamento de produtos até seu encerramento, em março do próximo ano. Aproximadamente 15% do total embolsado pelo SBT com publicidade vêm da novela infantil. Não é por acaso, que a emissora tem procurado ampliar o horário para a garotada. Sucesso dos anos 80, o palhaço Bozo já voltou à programação da casa e com emprego garantido e ampliado em 2013. O palhaço já disputa a liderança do Ibope no horário matinal, concorrendo com Record e Rede Globo.
Tivemos também, neste ano, a série animada do Sítio do PicaPau Amarelo (26 episódios de 11 minutos cada), lançada aos sábados pela Rede Globo, e o programa Conversa de Gente Grande, na Band, mas que saiu do ar depois de sete apresentações. Segundo a emissora, o programa não decolou por conta do horário: aos domingos à noite. De resto, apenas os desenhos animados enlatados já conhecidos.
No Brasil de hoje, criança só tem melhores opções na TV por assinatura. Mas que criança? De acordo com a Anatel, somente 16 milhões de domicílios brasileiros têm acesso à tevê fechada. Ou seja: não é a realidade de muitas meninas e meninos. Fato muitas vezes ignorado pelas emissoras e pelo próprio governo federal, que poderia cobrar e investir mais na produção audiovisual para criança na tevê aberta comercial e na TV Brasil, vinculada à Empresa Brasileira de Comunicações. Em 2012, apenas o programa TV Piá, uma produção terceirizada, fez diferença na programação da TV Brasil. Que tal, em 2013, pressionar os canais e o poder público? Lembrando: os canais são concessões públicas. Exigir produções/programas para crianças, com bom conteúdo, diário e em horário compatível é um direito.