Qual é o papel da grande imprensa na cobertura da educação no período eleitoral? Fizemos essa pergunta para três jornalistas que têm em comum o fato de terem, ao longo de suas carreiras, se especializado na cobertura do jornalismo educativo. São elas: Ana Lagôa, Eliane Bardanachvili e Élida Vaz. Leia e comente. Você também pode enviar o seu comentário sobre o tema. Participe!
Segundo Haroldo Cerqueira Lima, o Leleco, jornalista que me ensinou a trabalhar a favor do público, cobrir eleições não é ficar alardeando índices de popularidade como se fosse uma corrida do hipódromo. É confrontar alguns dados e fazer as conexões para informar o eleitor, de tal forma, que ele tenha muita clareza da opção que irá fazer. Os dados são óbvios: biografia pessoal e política dos candidatos, seus planos de ação, o perfil do partido a que se filiou, a realidade social e as necessidades de cada eleitor. Em um momento especial como o que estamos vivendo, com a ascensão social visível e bem vinda de quase 20 milhões de brasileiros ao mesmo tempo em que o país brilha nos parâmetros econômicos mundiais (apesar da torcida contra da mídia nativa), mas no qual temos imensas falhas educacionais, os jornalistas deveriam “pegar pesado” na análise das nossas demandas e o que cada candidato a qualquer posto público (executivo ou legislativo) tem a oferecer. Cobrar planejamento agora, cobrar cumprimento depois, municiando o eleitor de informações sobre os parâmetros de qualidade das escolas e do ensino a serem exigidos pela população e informar sobre os meios de que dispomos para que essa cobrança gere resultados. Nada que não seja o missão diária do profissional de imprensa. Ana Lagôa – jornalista especializada em Educação.
A imprensa comercial tem se preocupado em fazer uma cobertura diferenciada e abordar a educação de forma um pouco mais qualificada, ao longo dos últimos anos. É possível ver esse esforço, no que diz respeito ao espaço concedido ao tema e à busca por se terem profissionais conhecedores mais especializados para produzir reportagens. Embora ainda perdendo para muitos outros temas, a educação, pode-se dizer, está na pauta. No entanto, o fio condutor dessa proposta é torto, uma vez que está calcado em uma educação-de-resultados. A forma com que se valoriza a educação, hoje, é expressa em rankings municipais, estaduais, nacionais e mundiais. E isso não é problematizado pela imprensa – menos ainda em período eleitoral. Ao contrário, torna-se o ponto de partida de reportagens, até mesmo para se localizar uma escola do interior do país “bem posicionada” nas listas, para que se desvende seu segredo. Quem dá as cartas sobre o que é a “boa educação” são organismos como o Banco Mundial e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que espera que a educação dos países dominados seja numérica, como bem ressaltou o professor Muniz Sodré, da ECO/URFJ, em recente entrevista ao Observatório da Imprensa, pela TV. Na oportunidade, ele apontou a “falta de uma consciência orgânica, social, da importância da Educação”. A mídia seria uma aliada valiosa no questionamento dessa forma de a educação ser tratada. No entanto, toma parte do processo de acomodação da escola ao modelo de desenvolvimento com foco no mercado que temos hoje. Eliane Bardanachvili – jornalista, mestre em Educação pela UFRJ, professora de Jornalismo.
A cobertura da educação na imprensa vive de fases. Há períodos em que o tema merece maior destaque e uma cobertura mais diferenciada e outras em que o tema é tratado apenas de forma factual. Em geral, isso ocorre pela falta de equipes que se dediquem ao tema regularmente e à falta de espaço regular para o tema. Considero que a boa cobertura exija fundamentalmente memória, para evitar que projetos e ações nem tão novos sejam assim tratados a cada início de governo. E também que as matérias discutam os critérios que podem assegurar a qualidade do ensino, como forma de orientar as famílias a se inserirem nesta discussão, mas sem que o foco seja sempre a crítica e a destruição do que existe. E também que mostrem iniciativas simples e muito bem sucedidas e, principalmente, procurem destacar como a educação transforma, a partir da inserção do indivíduo na sociedade e na sua formação cidadã. Élida Vaz – jornalista, mestre em Educação pela PUC-Rio, professora de Jornalismo.