É comum os pais optarem por um curso complementar de inglês, oferecido pelas escolas de idiomas, para que os filhos consigam o domínio da língua. Isto porque, em geral, o ensino na escola regular não atende às expectativas na medida em que o aluno termina o ensino médio e não consegue um nível fluente do idioma. A crítica é da professora de Inglês Marianne Pesci de Matos, que apresentou dissertação de mestrado no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), orientada pela professora Sylvia Bueno Terzi. Marianne argumenta que falta uma sequência lógica no ensino do Inglês, pois é colocada para o aluno uma lista de vocabulário solto e sem contextualização, longe das situações do cotidiano do adolescente.
“Este quadro predomina, sobretudo, no ensino fundamental. No ensino médio, até se tentam introduzir a leitura de textos, mas as iniciativas ainda não atendem as necessidades do aprendizado de uma língua. É preciso mais que ensinar o verbo to be, pois os estudantes não conseguem ao final do curso ler fluentemente um texto completo”, critica a professora.
Marianne, no entanto, não culpa os professores por este tipo de cenário, pelo contrário. Ela acredita que em algumas experiências pode-se sim desenvolver um bom método de ensino. Mas, segundo ela, pouco se pode fazer em um sistema que prevê pouquíssimos encontros semanais. “É muito difícil passar um conteúdo e conseguir resultados positivos com uma carga horária de duas aulas por semana”, explica. Para a professora, exemplos expressivos são das escolas bilíngues e outras poucas particulares que conseguem transpor as barreiras do aprendizado.
Para embasar suas críticas, Marianne realizou um amplo estudo teórico sobre a situação do ensino nas escolas regulares tanto as públicas, quanto as particulares, e ainda tomou como objeto de pesquisa uma escola de ensino infantil e fundamental da rede privada de Sorocaba. A escola adotou uma metodologia chamada Systemic em um contexto interdisciplinar para melhorar a fluência na conversação do idioma. “Neste método, o inglês é utilizado como um meio de ensinar outras disciplinas. Os conteúdos de matemática, geografia e outros são passados na língua inglesa, semelhante ao que ocorre em uma escola bilíngue, mas com diferenças pontuais”, explica Marianne, que gravou diversas aulas em áudio, fez anotações em campo e entrevistou os professores envolvidos.
Na análise dos dados, a professora constatou que o método embora inovador e bastante interessante na teoria, na prática esbarra em muitas falhas. Com isso, os resultados acabam parecidos aos observados nos métodos convencionais. Por exemplo, os alunos estudam as partes do corpo humano sem discutir o contexto da situação. Por diversas vezes, Marianne constatou intervenções dos estudantes em qualquer oportunidade para se comunicar sobre assuntos do cotidiano.
Outra questão é que, geralmente, o conteúdo refere-se a algo que os alunos já aprenderam em português e, com isso, o objetivo de ensinar em inglês para a comunicação fica perdido. Enfim, a avaliação constatou que não se obtém o resultado esperado para o aprendizado efetivo da língua estrangeira na metodologia proposta. Em sua opinião, é preciso uma reestruturação na abordagem e optar por experiências voltadas ao público juvenil e, não aquelas, desenvolvidas para os adultos.
Fonte – Jornal Unicamp
Texto – Raquel do Carmo Santos