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Brincadeiras nada infantis

Já que censurar é inviável, como conviver com os videogames das crianças?



Por Luli Radfahrer

Professor de Comunicação Digital da ECA
Publicado na Folha de S. Paulo

Há vários benefícios na prática moderada de jogos eletrônicos, entre eles a administração simultânea de múltiplas variáveis e a agilidade na tomada de decisões. Mas esses benefícios, como os do consumo de vinho tinto ou café, podem ser anulados quando levarem a excessos.

Moderação, no entanto, não é uma característica comum a crianças e adolescentes, o que leva muitos pais a se preocupar com as atividades de seus filhos. Se é verdade que há em alguns excesso de cautela e desinteresse, o fato inegável é que os videogames vieram para ficar. Censurá-los não tem um grande efeito prático, já que podem ser jogados na casa de amigos. A única forma sensata de lidar com eles é dedicar tempo para estudá-los e compreender a motivação de seus usuários.

Para começar, é fundamental conhecer o “inimigo”. Uma breve consulta a qualquer manual mostra que os principais consoles e sistemas operacionais de PCs, notebooks, tablets e smartphones permitem a definição de limites quanto ao conteúdo e funcionalidades disponíveis, bem como horário e tempo de uso. Só é preciso configurá-los, de preferência com uma senha mais complexa do que “1234” ou a data de nascimento de seu pimpolho. O ideal, considerados o interesse, o tempo livre e a independência tecnológica da parte interessada, é que a senha seja única, guardada fora de alcance e trocada periodicamente. Em outras palavras, é bom que seja mais complexa que a de seu banco, até porque vai sofrer mais tentativas de invasão. Você acha lindo quando seu bebê configura seu PC? Pense duas vezes.

Casa em ordem, vamos para a rua. É verdade que um jogo on-line pode conectar seus jogadores a completos estranhos, em todos os sentidos, mas eles são raridade. Tipos bizarros ganham destaque entre a mídia alarmista e as igrejas panfletárias, mas a maioria dos participantes costuma ser inofensiva, concentrada no jogo e nada mais.

Bons jogos costumam dar a seus usuários a capacidade de bloquear, monitorar ou denunciar atividades irregulares. A maioria permite a criação de “listas de amigos” para expulsar encrenqueiros. O Club Penguin promove usuários ativos a “agentes secretos”, delegando a eles algumas habilidades de fiscalização.

Como boa parte dos serviços digitais, jogos não estão imunes a ações de má-fé, principalmente se elas vierem do próprio usuário. Pirataria e extensões irregulares (“mods”) podem ser baixadas facilmente e utilizadas para desviar de bloqueios, expondo seus usuários a vários ataques, a maioria deles na conta corrente. O uso do smartphone ou do PC de pais, primos e avós é outro canal aberto para uma internet sem filtro. Que pode ser fechado com um conjunto de senhas.

Pais superprotetores precisam levar em conta que, se tiverem um bom canal de comunicação, suas crianças tendem a ser as primeiras a denunciar o que virem de estranho ou agressivo. Por mais que não gostem da categoria, não custa perguntar quais são os títulos prediletos e entender o que há de divertido, interessante ou desafiador neles. Estabelecer bons critérios e limites de horário, local, tarefas e títulos a jogar também costuma dar bons resultados.

Videogames, enfim, não são um mundo à parte. Como tudo no mundo digital, apresentam novos fatos e desafios a uma paternidade que nunca foi fácil. Mas isso você já sabia.

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