O Brasil perdeu um grande intelectual, empreendedor e visionário: o editor Geraldo Jordão Pereira. Entre a infância cercada de escritores e a criação do Instituto Rio – entidade voltada para ações sociais -, Geraldo construiu um legado editorial que prima pela qualidade dos projetos e pela visão de mercado. Deve-se a ele as traduções do festejado Um dia daqueles e do sucesso de vendas O Código Da Vinci, de Dan Brown.
Filho do livreiro José Olympio, Geraldo nasceu em 1938, no Rio de Janeiro. Desde pequeno acostumou-se a conviver com a literatura, pois sua casa era freqüentada por ninguém menos que os poetas Carlos Drummond de Andrade e Manoel Bandeira e o escritor Guimarães Rosa, entre outros. Seu futuro não podia ser outro: apesar de formado em Ciências Sociais, pela PUC-Rio, e em Administração, nos Estados Unidos, Geraldo começou a trabalhar, ainda com 17 anos, na livraria de seu pai, ponto de encontro de escritores que agitavam a rua do Ouvidor, no centro da então capital do Brasil. Geraldo trabalhou na editora do pai até ela ser vendida para a Record, em 1976.
Agitação cultural
Dono de sólida formação intelectual, Geraldo chefiou o grupo que criou a campanha de mobilização pública para o Mobral (1969/1970). Ele também dirigiu a criação de projetos como o Museu de Arte Ditacta e a coleção Iniciação à Cultura Brasileira.
Após a venda da José Olympio, Geraldo fundou a editora Salamandra, voltada para livros de arte e infantis, pioneira na produção de cuidadosas edições para crianças. A qualidade de seus lançamentos levou Geraldo a ser nomeado membro do grupo de trabalho criado pelo Ministério da Educação e Cultura sobre literatura infantil.
Nessa época Geraldo começou a investir em ações sociais. Para ele, os governos têm o seu papel, mas acreditava que a sociedade também precisaria se mobilizar para que houvesse mudanças efetivas. Geraldo definia: o ponto crítico a superar é a miséria.
Proposta pioneira
Geraldo fez parte do Grupo de Trabalho para a criação da Fundação Parque do Flamengo e, em 1985, assumiu a direção do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, iniciando um trabalho de mobilização social e empresarial para preservar o patrimônio histórico da cidade do Rio de Janeiro. Criou e presidiu a Sociedade de Amigos do Jardim Botânico – que chegou a ter três mil sócios. Ali implantou a idéia pioneira de parceria com a Funabem (Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor), para que os adolescentes internos tivessem aulas com os jardineiros. Em 1988, criou o Centro de Integração Social através do Trabalho (Cisat), para dar apoio e profissionalização a adolescentes de famílias de baixa renda.
Sempre preocupado com a leitura, Geraldo fazia doações de livros para bibliotecas públicas, como as de Batatais (SP), e colaborou para a revitalização da Biblioteca Pública Municipal do Rio de Janeiro (RJ).
Fã de artes plásticas, Geraldo trouxe ao Brasil e exerceu a curadoria de importantes exposições, como Antigüidades de Freud, pertencentes ao Freud Museum, de Londres, expostas no Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro, em 1994, e Marilyn Monroe – O mito, com as últimas fotos da atriz Marilyn Monroe, que estiveram no Rio em 2007.
Momentos decisivos
Nas decisões que tomou como empresário, há três momentos marcantes e que tiveram impacto no mercado editorial. Em 1992, publicou Muitas vidas, muitos mestres, de Brian Weiss, um clássico sobre reencarnação, que fugia inteiramente da linha da editora Salamandra. As vendagens altíssimas indicavam um novo nicho de mercado e Geraldo decidiu, então, criar uma linha editorial voltada para autoconhecimento/auto-ajuda. Em 1998 inaugurou a Sextante, que se especializou nesse tema, dirigida em parceria com os filhos Marcos e Tomás, e sempre com sua marca: a qualidade das publicações. Na Sextante, um dos grandes sucessos foi Um dia daqueles, de Bradley Trevor Greive, no qual fotos de bichos e frases feitas compõem uma mensagem para que o leitor leve a vida adiante. Esta tradução fez da Sextante a líder brasileira no segmento de auto-ajuda.
Seu talento para descobrir potenciais sucessos de público e vendas, se repetiu quando, ao folhear uma revista literária norte-americana, deparou-se com uma pequena nota. Em pouco mais de dez linhas, anunciava-se que um, até então, obscuro Dan Brown finalizara um volume inspirado em Leonardo Da Vinci, Maria Madalena e Jesus Cristo. Geraldo ligou para os editores norte-americanos e propôs: pagaria US$ 12 mil pelo direito da edição brasileira. Este foi o terceiro momento marcante, que acabou abrindo as portas do mercado editorial brasileiro para uma nova safra de autores de textos pára-históricos.
O Código Da Vinci já vendeu 14 milhões de exemplares em todo o mundo. No Brasil, são mais de 1,5 milhão de exemplares. Com preço de capa original de R$ 39,90, numa conversão para dólares, já faturou algo como US$ 7,1 milhões. Imediatamente, em 2005, Geraldo destinou parte do lucro obtido com a comercialização do livro à criação do primeiro fundo permanente do país: o Fundo Vera Pacheco Jordão, em homenagem a sua mãe.
Geraldo conseguiu arrecadar R$ 3,5 milhões, sendo parte proveniente de recursos seus. O fundo ajuda a financiar os projetos selecionados pelo Instituto Rio, fundação comunitária da Zona Oeste do Rio de Janeiro. À frente do Instituto Rio, Geraldo deu suporte a 72 projetos em cinco anos, com mais de 20 mil beneficiados. A matemática de Geraldo era simples: cada real doado tem imenso valor, pois pode ser multiplicado. Ele queria dar o exemplo a seus colegas empresários com uma fórmula simples de projeto social. Falecido em março de 2008, agora, Geraldo se ausenta, cedendo a outros o seu lugar.
Depoimentos:
Zuenir Ventura
Regina Pereira
Marcos Pereira
Silvana Gontijo
Elizabeth Serra