Por Vilma Homero
Faperj
O álcool é a droga mais consumida no mundo inteiro, com cerca de dois bilhões de usuários, como informam os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). E é também a de mais fácil acesso e, por isso mesmo, a de uso mais frequente entre os jovens, que, no Brasil, vêm começando cada vez mais cedo suas primeiras experiências – entre 10 e 12 anos. Esse é o cenário que tem preocupado particularmente os profissionais do Grupo de Estudos e Pesquisas em Álcool e Outras Drogas (Gepad), grupo de pesquisa liderado pela professora da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Gertrudes Teixeira Lopes.
Com o objetivo de informar crianças e adolescentes sobre esses riscos, o grupo criou uma proposta pedagógica baseada no diálogo e na promoção da saúde. Trata-se do projeto Álcool no Espaço da Escola Fundamental e o Enfermeiro, que contou com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). O foco são os alunos do segundo segmento do Ensino Fundamental de escolas da rede pública. Para isso, o Gepad traçou uma pesquisa qualitativa, com os estudantes do 6º ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal Orsina da Fonseca e do Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira (CAP/Uerj), ambos localizados no Rio de Janeiro.
Segundo a pesquisadora, o uso do álcool, em geral, começa em festas e comemorações em casa, com a tolerância dos pais, que não se importam quando a criança experimenta uma bebida alcoólica. “Mesmo que, segundo a literatura, o uso comece entre os 10 e 12 anos, isso não significa que muitas crianças não tenham experimentado o álcool antes”, afirma a pesquisadora.
Para ela, é preocupante que já se observem casos de crianças de até 10 anos dependentes da bebida. “Fatores genéticos, ambientais e comportamentais influenciam na continuidade do uso. E como há certa tolerância social com a bebida, que é uma droga lícita, os jovens têm livre acesso, o que estimula o consumo e torna mais fácil atingir a dependência”, completa.
O grupo de pesquisa constatou que os estudantes, muitas vezes, saem de festas e de bailes funk e vão direto para as salas de aula. “Os jovens têm bebido cada vez mais cedo e em maior quantidade. Nessas condições, eles geralmente se envolvem em brigas com colegas, agridem professores. Sem falar no prejuízo ao próprio aprendizado. Mais um motivo para acreditarmos que a prevenção é a grande arma”, conta.
Por que as crianças e os adolescentes bebem cada vez mais cedo? Trata-se de um conjunto de fatores. Mas um deles é o sentimento de fazer parte do grupo. “Não beber fica sendo considerado careta, numa fase em que é importante para os jovens o sentimento de fazer parte do grupo, de pertencer. A isso se soma que a bebida tem um forte componente de sociabilidade. As pessoas se convidam para ‘tomar um chope’, saem para beber”, explica.
Nas reuniões com os estudantes, o grupo procura manter um diálogo aberto, buscando passar informação sem julgamento. “Até porque beber é prazeroso, um prazer de que muitos não querem abrir mão. Além disso, nosso trabalho não é terapêutico. Conversamos, passamos informações e trocamos experiências para mostrar os efeitos nocivos que a droga produz, procurando lidar com o tema, sem censura nem apologia. A ideia é conhecer e fazer uso com responsabilidade” afirma.