A revistapontocom já publicou alguns conteúdos sobre realidade aumentada. A discussão sobre o tema, assim como a sua aplicação, vem sendo cada vez mais intensa. Uma prova disso é o ISMAR, simpósio internacional que se dedica, exclusivamente, ao debate do assunto. O encontro deste ano, realizado, em outubro, em Basileia, na Suiça, reuniu especialistas e pesquisadores da Ásia, Europa e Américas.
Foram apresentados cerca de 40 projetos que se utilizam da realidade aumentada. Entre eles, destacam-se o Ara Indoor-Outdoor, que pretende auxiliar as pesssoas com dificuldades visuais a adquirir uma maior autonomia a partir de um sistema de navegação de alta precisão, utilizando o aúdio; o programa Who’s affraid of bugs?, que faz uso da realidade aumentada, em um livro interativo, para trabalhar as fobias com relação aos insetos; e o Augmented Video Conferencing, que permite que o público presente numa palestra compartilhe conteúdos.
“De fato, a realidade aumentada não faz parte do dia a dia do grande público”, disse Jordi Janer, pesquisador da Universidade Pompeu Fabra, Barcelona, ao jornal EL País. Segundo ele, um aspecto que vai mudar este cenário é a criação de conteúdo por parte dos usuários/internautas comuns e das comunidades virtuais.
Dias antes do encontro, o site swissinfo.ch entrevistou Vincent Lepetit, pesquisador da Escola Politécnica Federal de Lausanne, Suíça, e responsável pelo encontro internacional. A revistapontocom reproduz o conteúdo, com o objetivo de socializar mais ainda o debate sobre o tema.
Acompanhe:
swissinfo.ch – Vamos começar com uma pergunta óbvia: o que é Realidade Aumentada?
Vincent Lepetit – A Realidade Aumentada (RA) é uma tecnologia que acrescenta elementos virtuais a imagens capturadas por uma câmera. Neste ponto, parece com os efeitos especiais de cinema, onde objetos sintéticos são adicionados à cena filmada pela câmera. A grande diferença é que a RA funciona em tempo real, o que significa que os objetos são adicionados enquanto a câmera capta as imagens, permitindo, assim, uma interação real com o usuário.
swissinfo.ch – Podemos conhecer alguns exemplos específicos desta tecnologia?
Vincent Lepetit – Por exemplo, uma das primeiras aplicações de Realidade Aumentada para “smartphones” consistia de orientações para encontrar as estações de metrô de Londres. Ela funcionava através de painéis virtuais adicionados à imagem da rua feita pela câmera do telefone. Em outra área, cirurgiões, em colaboração com a Universidade Técnica de Munique, começaram a usar RA para a cirurgia do joelho. A RA permite que os usuários visualizem seus instrumentos dentro do joelho do paciente. Jogos, educação, arte e publicidade são outras áreas onde a RA é aplicada regularmente.
swissinfo.ch – Você diria que essa tecnologia está ao nosso redor, mas não temos consciência disso?
Vincent Lepetit – Se você assistir a um jogo de futebol na TV, notará que não é de hoje que a distância de um chute, ou os patrocinadores são adicionados diretamente durante a transmissão. Isto é nada mais e nada menos do que uma aplicação de Realidade Aumentada. Os smartphones permitem cada vez mais que a RA esteja disponível ao público. Por exemplo, um aplicativo que permite que você veja os cumes das montanhas com seus nomes e as alturas.
swissinfo.ch – O que representa o ISMAR 2011?
Vincent Lepetit – O ISMAR é a sigla em inglês que significa Simpósio Internacional sobre Realidade Aumentada e Mista. É uma conferência internacional que reúne os melhores pesquisadores em Realidade Aumentada. O ISMAR começou há 10 anos e só vem crescendo desde então. Os pesquisadores do ISMAR se interessam em diferentes aspectos da RA: a tecnologia em si, mas também o aspecto humano. Como a RA é percebida pelo usuário e como deve ser a interface do usuário de uma aplicação de RA. Além disso, agora também tem artistas participando do ISMAR, que apresentam obras realizadas com RA de forma bem original.
swissinfo.ch – Em que sentido o ISMAR é especial?
Vincent Lepetit – Muitas das principais inovações técnicas foram apresentadas em ISMAR ao longo dos anos e os pesquisadores nos reservam, certamente, grandes surpresas para essa edição. Este ano, temos visto crescer, não só o número de publicações científicas, selecionados por um comitê internacional, mas também as manifestações técnicas e artísticas, selecionadas com igual rigor. Muitas destas novidades são originais e muito impressionantes, mesmo para alguém como eu.
swissinfo.ch – Qual o papel da Suíça neste novo mundo?
Vincent Lepetit – A Suíça já está muito envolvida com a Realidade Aumentada em diferentes níveis. Vários laboratórios das Politécnicas de Zurique e Lausanne desenvolveram técnicas fundamentais usadas em RA e as escolas suíças de design criam conteúdo com RA. Por exemplo, o trabalho de diploma de Camille Scherrer, da ECAL, recebeu amplo reconhecimento internacional graças ao prêmio Pierre Bergé.
swissinfo.ch – Qual é o futuro da Realidade Aumentada?
Vincent Lepetit – O conceito de Realidade Aumentada não é novo, o que é novo é que agora a tecnologia evoluiu o suficiente para permitir o acesso ao público em geral. A tecnologia se desenvolveu bastante, mas também o surgimento e sucesso dos smartphones tem levado muitas empresas a desenvolver novos aplicativos de RA. A Realidade Aumentada agora é acessível a qualquer pessoa, e tudo indica que o fenômeno se desenvolverá muito rapidamente no futuro próximo. Um estudo da ABI Research prevê um mercado de 360 milhões de francos suíços em 2014 [cerca de R$ 800 milhões].