“É necessário entender o cinema e a produção audiovisual como importantes caminhos para a ampliação de conhecimentos”, destaca Adelaíde Léo.
Desconstruir a ideia de que a presença de filmes na escola limita-se ao puro entretenimento ou ao simples pretexto de ensinar determinado conteúdo. Esta é a proposta do projeto Cineclube nas Escolas, desenvolvido, desde 2008, pela Gerência de Mídia Educação da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro. Dos 50 espaços iniciais, o projeto, hoje, está presente em 210 unidades.
“É necessário entender o cinema e a produção audiovisual como importantes caminhos para a ampliação de conhecimentos e do patamar cultural dos estudantes. Por meio de acervos de DVDs com curtas, médias e longas e de livros sobre a sétima arte, os alunos mais do que veem um filme. Eles aprendem ações e desenvolvem o cineclubismo dentro das escolas”, afirma Adelaíde Léo, responsável pelo Cineclube nas Escolas.
Em entrevista à revistapontocom, Adelaíde conta como funciona o projeto na prática e garante que o cineclube também desperta a potencialidade da produção audiovisual de professores e alunos.
Acompanhe:
revistapontocom – O que é o Cineclube nas Escolas?
Adelaíde Léo – É um projeto de implantação de uma política pública no campo do audiovisual. O projeto está organizado em três eixos: aquisição de equipamentos – como projetor, telão, caixas de som – e acervos de livros e filmes para as escolas; formação de professores e alunos; e ação cineclubista na escola, que se traduz em exibições de filmes, ida ao cinema e produção audiovisual por parte de alunos e professores. O projeto também prevê a realização de parcerias com diversos festivais e mostras que acontecem na cidade do Rio. Por meio delas, ocorrem exibições itinerantes nas escolas, participação dos alunos e professores nos festivais e mostra das produções das escolas nas programações oficiais dos eventos. Já estabelecemos acordos com o Festival do Rio, Mostra do Filme Etnográfico e Festival Ibero Americano de Cinema e Vídeo (Cinesul). O projeto tem como premissa desconstruir a ideia de que a presença de filmes na escola limita-se ao puro entretenimento ou ao simples pretexto de ensinar determinado conteúdo. É necessário entender o cinema e a produção audiovisual como importantes caminhos para a ampliação de conhecimentos e do patamar cultural dos estudantes. Quando o projeto foi elaborado, havia também uma intenção de garantir aos alunos o direito de acesso às produções audiovisuais, sobretudo aos curtas-metragens nacionais.
revistapontocom – Como o projeto funciona no dia a dia?
Adelaíde Léo – Na prática, as sessões cineclubistas acontecem, preferencialmente, no contraturno das aulas. As escolas que participam do projeto recebem acervos de DVDs, contemplando uma diversidade de possibilidades narrativas e estéticas, além de livros voltados para a temática. Cada escola também ganha equipamentos de projeção e filmagem, como telão, projetor multimídia, aparelho de DVD e filmadora digital. Professores e alunos participam de uma formação específica em cursos ministrados por profissionais da área, com objetivo de se aproximarem da linguagem cinematográfica. São os professores e os alunos de cada cineclube que elaboram todo o planejamento das sessões de cinema. A periodicidade das sessões varia de acordo com o ritmo de cada escola. Sugerimos que aconteça, pelo menos, quinzenalmente ou mensalmente. A escola pode fazer uma exibição por faixa etária, para um grupo específico ou para toda a escola.
revistapontocom – Os alunos são apenas expectadores?
Adelaíde Léo – Não. Nestas sessões, os alunos são incentivados a assumir o protagonismo das ações. Eles são responsáveis por todo o processo, da escolha do filme até a mediação do debate, que sempre acontece após a exibição. Cuidam do material de divulgação na escola e na comunidade, elaborando sinopse, ficha técnica, cartazes, panfletos, folders, convites, propagandas nos meios de comunicação da escola, bem como da produção de vinheta audiovisual para exibição no início da sessão. A testagem e o manuseio dos equipamentos também ficam sob a responsabilidade da equipe. Em cada debate, aberto a toda a comunidade local, são discutidas questões ligadas não só aos temas trazidos pelo filme, mas também à linguagem audiovisual. As emoções despertadas pela narrativa e a relação que o espectador estabeleceu com o filme também têm espaço garantido nos encontros. Todo o processo é registrado através da elaboração de um portifólio e de postagem de relatos nos meios de comunicação da escola, como o jornal escolar e blog. É importante que haja, sempre, um diálogo entre a ação cineclubista e a proposta pedagógica desenvolvida na escola, entendendo que esse movimento pode potencializar um conjunto de ações de desdobramento, permitindo, portanto, a articulação com diferentes campos do saber.
revistapontocom – Que filmes fazem parte do acervo do Cineclube?
Adelaíde Léo – Priorizamos filmes com uma boa narrativa, boa história, filmes inteligentes. O acerco é composto de filmes do cinema nacional e da coleção de Charles Chaplin.
revistapontocom – Uma das ações do cineclube também é a produção autoral de alunos e professores. Como é viabilizada essa produção?
Adelaíde Léo – Eles recebem equipamentos por meio do projeto. Além disso, muitas escolas também já têm em seu acervo câmera digital e softwares livres. Temos ainda parceria com o projeto Anima Escola, do Anima Mundi. E muitos professores já sabem trabalham com o Movie Maker e o Audacity. Entre as produções já realizadas podemos destacar: Fogo no céu, da Escola Municipal Burle Marx, Machado de Assis, do Núcleo de Arte Copacabana, O príncipe negro, da Escola Pio XII, e Um ônibus chamado Rio Ciep, do CIEP Presidente Agostinho Neto.
revistapontocom – Quantas escolas já foram beneficiadas?
Adelaíde Léo – O projeto foi implantado, em 2008, em 47 escolas, no Instituto Helena Antipoff, no Centro de Referência de Jovens e Adultos e na Sala de Leitura Lourenço Filho, que fica na sede da Secretaria Municipal de Educação, totalizando 50 pontos de cineclube. Destes, 30 estão localizados nas chamadas Salas de Leitura Pólo, que atendem outras escolas. Hoje já são 210 cineclubes escolares. No entanto, podemos afirmar que, indiretamente, todas as escolas da rede são beneficiadas, à medida que as Salas de Leitura Pólo podem disponibilizar equipamentos e acervos para as demais escolas que não se encontram atualmente no projeto. Mas, de fato, o projeto pretende atingir todas as 1065 escolas, da Educação Infantil até o 9º ano do Ensino Fundamental, englobando também as escolas do Programa de Educação de Jovens e Adultos (Peja). Desde o ano passado, professores de escolas que não participam do projeto têm nos solicitado filmes para organizarem sessões em suas escolas. A perspectiva é que novas escolas, a cada ano, sejam incorporadas ao projeto. Neste ano, o cineclube já chegou a 11 Ginásios Públicos.
revistapontocom – O projeto é aberto a toda a comunidade?
Adelaíde Léo – Sim. Toda comunidade é convidada a participar do projeto. Mas é recomendado que os interessados entrem em contato com a escola para conhecer o cronograma.
Considero o projeto Cineclub nas Escolas enriquecedor do processo educacional. É uma maneira mais prazerosa de trabalhar conteúdos diversos, além do lúdico, é claro. Sou supervisora pedagógica de uma escola de Palmas, Tocantins e gostaria de saber se o projeto se prende especificamente às escolas do RJ ou se há possibilidade de engajamento de outras escolas, cpmo a nossa.
Obs: É possível indicar o site do projeto? Não estou encontrando a referência e gostaria de inclui-lo no mapeamento Midiaedu (www.midiaedu.ning.com)
Obrigada
É com felicidade e ânimo que tomo conhecimento deste projeto, que ilumina e coloca em prática pressupostos compartilhados pela Mídia-Educação em todo o mundo. Basta achar (apenas) que lugar de filme (e seus trechos) é para ilustrar conteúdos. A linguagem audiovisual, por si só, como expressão narrativa e simbólica, merece ser usufruída e tida como inspiração para a produção dos alunos. Parabéns!
Esse projeto leva cultura e intretenimento aos nossos alunos. Coloca-os em contato com a linguagem audiovisial.
Parabéns!
O Projeto Cineclube foi um ganho extraordinário para os alunos da Rede Municipal. Eles adoram participar de todo o processo, desde a escolha do filme até a organização do debate. Percebemos um certo amadurecimento, por parte de determinados alunos, durante o decorrer desse processo.
É uma motivação a mais para que os alunos participem ativamente das aulas e se envolvam com as atividades extracurriculares oferecidas.
Estou muito feliz pelo Projeto Cineclube. O trabalho desenvolvido pelos vários participantes merece um espaço para ser compartilhado. A divulgação do cinema como uma linguagem que poder ser usada como mais uma estratégia nas escola é essencial para a democratização do saber.
Fundamental essa ação nas escolas. Dentre os muitos benefícios educacionais e culturais levantados, vale destacar a importância de formação de plateia para o cinema nacional, essencial para o aquecimento da nossa indústria cinematográfica.
Parabéns. O Projeto Cineclube é um sucesso. A garotada adora e nós temos mais uma linguagem para ensinar e aprender na formação de nossos alunos.
o cineclube e uma arte, no momento estou ensinando para meus alunos o que aprendi através do cine sesi e buscando outros conhecimentos também.