Pelo menos uma vez na vida, você, professor, já deve ter imaginado mil maneiras de ‘calar’ todos os seus alunos num piscar de olhos. E, ainda, prolongar a concentração deles por um mísero tempo de aula. Tudo isso para ter a chance de fazê-los aprender. Nos Estados Unidos, estudos recentes revelaram uma lista de “segredinhos” de professores bem-sucedidos nesse desafio. São técnicas, segundo os autores, com o poder de auxiliar no processo de aprendizado e arrancar as melhores notas.
Os truques estão nos livros Teaching as Leadership:The Highly Effective Teacher´s Guide to Closing the Achievement Gap (Ensinar Como um Líder: O Guia do Professor Supereficiente para Diminuir o Déficit de Aprendizado), de Steven Farr, e Teach Like a Champion: 49 Techniques That Put Students on the Path to College (Ensine Como um Campeão: 49 Técnicas que Colocam os Estudantes no Rumo da Universidade), de Doug Lemov, bem como em uma análise do economista Eric Hanushek, da Universidade Stanford. Certos métodos, no entanto, são questionáveis. Pelo menos no ponto de vista da pesquisadora Bernardete Angelina Gatti, superintendente educacional da Fundação Carlos Chagas, em São Paulo, que analisou os livros.
A especialista, para início de conversa, não é fã de fórmulas padronizadoras. Pelo contrário, aposta, principalmente, na sensibilidade e no compromisso individual dos professores com suas turmas. Eles devem levar sempre em consideração o funcionamento de cada classe, com seus alunos específicos. A qualidade do mestre não é a única responsável pelo sucesso no aprendizado, mas é determinante.
“As saídas preconcebidas ajudam, porque nos dão ideias de como agir. Mas têm que estar associadas à sensibilidade com seus alunos e suas classes. Cada uma tem um tônus, um jeito de ser”, defende Bernardete. “O professor não pode ser um autômato, um mero aplicador de técnicas. Ele está formando uma pessoa. Então, tem que atuar como pessoa, junto de outras pessoas”, acrescenta.
Formação de professores pode ser um problema
O que prejudica o bom andamento das aulas e o resultado nas avaliações muitas vezes não tem a ver com quem está nas carteiras. As causas são anteriores e dizem respeito à formação dos professores nas licenciaturas, que Bernadete classifica como precária no Brasil. As instituições de ensino superior não têm desenvolvido um currículo de cursos de formação de professores de maneira coerente, integrada e com materiais ricos.
“Ao contrário, a gente vê um aligeiramento dos conteúdos na licenciatura, com a diminuição das horas-aula e dos estágios, que praticamente não são realizados”, critica Bernardete.
A pesquisadora sugere uma avaliação objetiva para não ficar no “achômetro” de quem merece ser premiado. Ou seja, os avaliadores devem se basear em características “observáveis”. Um caminho seria ouvir os pais e os alunos para refinar o processo de avaliação do desempenho da instituição de ensino.
“Em geral, supõe-se que a escola que tem alunos que vão bem nos exames nacionais tem o melhor ensino. Mas é necessário agregar outros fatores, como a avaliação dos pais, por exemplo”, conclui Bernardete.
Confira abaixo as opiniões de Bernardete sobre alguns macetes dos professores:
– Andar pela sala
Em vez de ficar diante dos alunos, o professor circula pela sala e faz perguntas individuais enquanto explica a matéria. A movimentação permite perceber quem está atento e quem está distraído com celulares, jogos e conversas paralelas.
“A proximidade entre aluno e professor vai além da questão da vigilância. Acho que é mais importante o aluno sentir o interesse do professor por ele. O professor que percorre as cadeiras demonstra um interesse particular por cada aluno. É isso que faz a diferença. A professora Laurinda Ramalho, da PUC de São Paulo, trata deste assunto em um estudo relativo a cursos noturnos. Perguntados sobre as qualidades dos professores considerados bem-sucedidos, os alunos responderam: ‘A diferença é que eles chegam às minhas carteiras’. Graças a Laurinda, já temos esse conhecimento desde a década de 80”.
– Insistir na resposta corretaO professor não aceita um “não sei” como resposta. Em vez disso, estimula o aluno com a mesma pergunta, feita de diferentes formas, até que ele responda da forma correta.
“É um processo muito interessante.”
– Dirigir as perguntas aos alunos que não levantam a mão para respondê-lasEm vez de fazer uma pergunta para toda a classe ou chamar somente quem levanta a mão, o professor escolhe quem vai dar a resposta. A técnica ajuda a checar se os alunos aprenderam e, acima de tudo, se estão atentos.
“É uma boa forma de atuar, desde que chame os alunos mais aplicados também.”
– Proibir anotações durante a explicação do professor“Acho muito rígido. Cada aluno tem a sua forma de aprendizagem. Se eu não rabiscar um caderno enquanto alguém me ensina uma coisa nova, não acompanho o raciocínio da pessoa. Há varias formas de apreensão de conhecimento. Enrijecer a metodologia não é bom. Para alguns alunos a escrita pode enriquecer. Tem que deixar a critério do aluno.”
– Usar recursos como histórias, filmes e desafios para ensinar um tópico da matéria
“Acho muito interessante, desde que a história ou a música tenham a ver com o conteúdo que o professor vai desenvolver. Assim o aluno é motivado e presta mais atenção, além de ver que o conhecimento está no mundo e não é uma coisa esotérica.”
– Pedir para o aluno se retirar da sala de aula para não atrapalhar o restante da turma“É desespero e nem sempre é válido. Depende da situação, do que o aluno está fazendo e das características dele. Em alguns casos, é pertinente pedir que ele se retire, sim. Em outros, pode ser prejudicial. Se ele tiver certo tipo de liderança na turma, por exemplo, pode haver uma sensibilização emocional que pode prejudicar ainda mais o andamento da aula.”
– Ao final da aula, resumir o que é preciso memorizar
“Didaticamente falando, fazer um resumo das coisas principais é muito importante. Faz parte de um método de ensino. Mas a anotação não deve ser deixada só para este momento.”
– Gerar um debate antes de começar a redação
“É muito interessante ouvir os alunos se manifestarem, com os professores interferindo o mínimo possível. Eles ampliam o horizonte e conhecem as ideias dos outros. Desta forma, podem escrever com mais adequação sobre a questão trazida pelo professor.”
Fonte – Conexão professor – Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro
Acredito que em alguns casos algumas dicas funcionem de vez em quando. No entanto, tenho certeza de que sempre funciona o seguinte procedimento: contar um fato conhecido ou acontecimento pessoal relacionado ao tema que será exposto. Principalmente quando o relato é feito com entusiasmo e emoção, permanece na memória dos alunos. Desta forma cria-se um momento mais íntimo que propicia o diálogo, desperta mais interesse em ouvir e favorece a participação dos alunos em sala de aula.
Gostei do asunto e senti afinidade com a bordagem. Ha anos trabalho como professora universitária sem ter estudado pedagogia – nunca tive aula de didática. No entanto, como jornalista e mãe, e na lida com pessoas, venho desenvolvendo uma percepção em relação ao que funciona e o que não funciona na minha área de conhecimento – o jornalismo. Uma coisa importante é olhar e ver as pessoas que compõe o grupo. Ouvir a história de cada um, e valorizar o conhecimento que cada pessoa tem. Fazer com que todos se manifestem, como foi sugerido nesta matéria – pedir para cada um falar, mno mento em que esta fala seja importante para a pessoa e para a turma, e não só esperar que se manifestem. Outra coisa é passar os conceitos em meio à conversas, não necessariamente em forma de “aula”. Hoje, as pessoas tem muito acesso a informação.E nessas conversas eu sempre procuro o ponto de conexão afetivo que o aluno aceite, de maneira que ele pereste atenção porque sente que é importante saber aquilo, não porque lhe é imposto. Como? Com muitos exemplos do dia a dia que conectem com fatos históricos, teorias, tecnicas referenciais ou assuntos polêmicos que mobilizem discussão. Minha aliada mais importante: a intuição. Meu sentimeto mais útil e fertilizante: gostar de gente. Um abraço!
Cristina
Um monte de lugares comuns, não acrescenta nada essa matéria.
Entrei neste artigo para verificar o que significaria um texto com título “Receitas para a sala de aula?”, numa instituição que faz parceria com a escola que trabalho, no entanto me deparei com um referencial ao ensino norte americano, com contextos bem diferentes da nossa realidade. Mas os especialistas de São Paulo que se apresentam em seguida, fazem valer a leitura de curiosidade. Aprendi em toda a minha formação técnica e pedagógica que não há receituário quando se trata de ensinar e aprender. Hoje, já não se pode indicar certezas, mas intenções, e acreditar no diálogo como “meio” de processar a aprendizagem, pode ser o melhor caminho dentre muitos que podemos fazer emergir da/na prática docente.