Por Luanna Tavares
Mídia educação é a palavra de ordem de um intercâmbio inovador que está sendo realizado entre gestores e educadores das secretarias de educação do Rio de Janeiro e de Pernambuco. O grupo já participou de dois workshops: um realizado na Escola Técnica Cícero Dias – Nave-Recife, no mês de outubro, com 36 Escolas Técnicas Estaduais; e o segundo, no Colégio Estadual José Leite Lopes – Nave-Rio, em novembro, com as 37 escolas do Programa Ensino Médio Inovador (ProEMI) da rede estadual.
A cada encontro, que durou dois dias, os professores das instituições participantes trocaram informação, metodologias, desafios e encaminhamentos. Além disso, gestores, coordenadores pedagógicos, educadores de apoio e educadores de unidades escolares inovadoras puderam apresentar algumas de suas ações no sentido de promover uma escola mais inclusiva, democrática e cidadã por meio da mídia educação.
Na ocasião, cada integrante também recebeu a Cartilha Novos Rumos. O documento (clique aqui e confira) apresenta e propõe um ambiente interativo para que cada escola possa montar o seu próprio projeto/departamento de mídia educação, respeitando o seu contexto social e cultural. Além disso, traz rotinas de operação e atividades.
Segundo Fábio Meireles, coordenador de Educação do Oi Futuro, todas as escolas que participaram fizeram um diagnóstico de suas ações e programas e, ao final, se propuseram uma estratégia de desenvolvimento e aplicabilidade de um projeto inovador em mídia educação para 2018.
“O NAVE foi concebido para ser um programa de experimentação de prática. Esses dois encontros foram importantes para contribuir com a disseminação de novas práticas pedagógicas no contexto da mídia educação, revigorando e ratificando, assim, a missão do NAVE que é impactar positivamente a rede pública de ensino do país”, disse Fábio em entrevista à revistapontocom.
Para Meireles, qualquer mudança, no dia a dia da escola, assusta, intimida. Nesse contexto, os desafios encontrados para se criar um ambiente escolar inovador são muitos. E, segundo Meirelles, o principal é a falta de tempo. “Os professores estão com menos tempo. E é lógico, faltam também, em algumas realidades, infraestrutura, equipamentos, formação de professores, conectividade. Soma-se a isso tudo o fato de muita gente ainda ter receio em investir na inovação”, destacou.
Confira abaixo a entrevista que os coordenadores do espaço de mídia educação NAVE Rio e NAVE Recife, Jonathan Caroba e Juliane Travassos, respectivamente, concederam à revistapontocom.
revistapontocom – O que representou esses dois encontros para as escolas participantes?
Jonathan Caroba – Para os Espaços de Mídia Educação dos NAVEs a formação com os professores da rede é um marco. Representa o impacto e a qualidade do trabalho que é feito nos dois NAVE. Trata-se de um trabalho de total relevância para as redes públicas de ensino do Rio e de Recife. Mostra também a capacidade da comunicação nos processo de ensino-aprendizagem e como o professor pode transformar a sua sala de aula através de ferramentas tecnológicas usadas no cotidiano da escola.
Juliane Travassos – Sair da escola e apresentar os casos práticos de uma metodologia original desenvolvida no NAVE foram ações gratificantes para nós, como instituição. A realização do evento potencializou o processo educativo, aperfeiçoando a atuação de gestores e professores com os recursos para dialogar com o mundo do século XXI. Conseguimos provocar uma reflexão em 36 escolas técnicas do Estado de Pernambuco sobre a possibilidade de se ressignificarem e inovarem na área da educação através da mídia educação.
revistapontocom – Qual é a importância de se discutir com as escolas práticas na área de mídia educação?
Jonathan Caroba – Para nós, como instituição que tem o objetivo de impactar a rede pública, fica o sentimento de dar sentido ao trabalho que desenvolvemos na escola. Para os gestores e professores das escolas que estiveram conosco, acredito que tenham começado a enxergar quais são os benefícios de se trabalhar a mídia educação em sala de aula, por meio de ações simples que, com certeza, impactam, positivamente, não só a sala de aula, mas também toda a comunidade escolar. Além disso, é a oportunidade que outras escolas têm de olhar para o NAVE não como uma vitrine, mas como uma experiência inspiradora e engajadora, que faz uso do conhecimento técnico da nossa equipe para implementar de fato um espaço de mídia educação.
Juliane Travassos – Dialogar e trocar muitas experiências, conhecer escolas com perspectivas e contextos diferentes faz com que possamos aplicar e replicar ideias para a melhoria no processo educativo de cada instituição, fortalecendo, assim, a rede de Escolas Técnicas do Estado.
revistapontocom – Que peso tem a cartilha produzida e apresentada durante workshop para o futuro dos educadores e estudantes?
Jonathan Caroba – A cartilha é bastante específica tecnicamente, ao mesmo tempo que é simples e coerente. Mesmo um professor que não conhece ou não domina algum tipo de tecnologia vai ter base e recursos, gratuitos inclusive, para que ele possa desenvolver projetos e atividades na sua escola. Ela não só explica como o professor/gestor pode criar um departamento de mídia educação na sua escola, mas também sugere rotinas de operação do espaço para que toda a escola possa usar e produzir dentro do conceito de mídia educação.
Juliane Travassos – Podemos assimilar a cartilha como um manual de instrução, que serviu não só apenas durante o processo de criação no workshop, mas como referência para o desenvolvimento de um espaço de mídia educação na escola.
revistapontocom – As práticas de mídia educação têm por objetivo tornar a escola mais inovadora?
Jonathan Caroba – Acredito que toda escola precisa ser inovadora. E, olhando por esse ponto, toda escola tem a dificuldade de saber onde quer chegar, ou como quer que seus alunos saiam ao final de alguns anos de formação. Nesse sentido, a formação em mídia educação aposta muito na comunicação dentro da educação como forma de engajar a equipe, resolver os problemas de interlocução e promover/potencializar as atividades que já acontecem dentro de cada escola.
Juliane Travassos – Uma escola inovadora é aquela que se permite sair da zona de conforto para se atualizar na área da educação. Conhecer com quais públicos ela dialoga, fazer um diagnóstico do seu contexto e desenvolver práticas e competências para o século XXI, visto que os jovens estão dedicando mais e mais o seu tempo às mídias digitais. Sim, as práticas de mídia educação podem ajudar a inovar o contexto da sala de aula.
revistapontocom – Para se ter um ambiente escolar inovador quais são os desafios encontrados?
Jonathan Caroba – A resistência. De modo geral, todos os professores e gestores que quiserem criar seus espaços de mídia educação terão de lidar com as resistências de alguns colegas e alunos. Mas falamos muito sobre esse ponto e demos algumas soluções para que os professores possam defender a ideia de se ter um departamento de mídia educação na escola e que esse espaço se torne imprescindível para o desenvolvimento de atividades escolares.
Juliane Travassos – Entendo que o principal desafio é fazer com que a gestão da instituição se permita. Se permita incorporar esse fenômeno digital em suas práticas, dando destaque aos trabalhos integrados e interdisciplinares, em realizar eventos e ações que potencializem a atuação dos estudantes, permitindo que eles tenham voz, que se comuniquem, se conheçam. Vale ressaltar que a mídia educação é uma pedagogia inovadora que promove o estudo da comunicação, das mídias e da produção de conteúdos para e com os meios de comunicação, como parte do projeto pedagógico. Além disso, os espaços de mídia educação vêm se configurando em pólos de inovação, de mobilização para busca de soluções pedagógicas em linha com as experiências cotidianas dos nossos jovens.