Por Monica Fantin
Doutora em Educação, professora do curso de pedagogia da UFSC e do programa de
Pós-Graduação em Educação, linha de pesquisa Educação e Comunicação, PPGE/UFSC
Para continuar a conversa sempre atual sobre repertórios culturais e formação de professores, vamos comentar alguns aspectos de uma pesquisa intercultural sobre usos das mídias, consumos culturais dos professores e a formação em mídia-educação desenvolvida em dois contextos socioculturais: Brasil e Itália. A referida pesquisa foi publicada no livro recentemente lançado Cultura digital e escola: pesquisa e formação,organizado por Monica Fantin e Pier Cesare Rivoltella (Editora Papirus, 2012), que também coordenaram a pesquisa em Florianópolis, na Universidade Federal de Santa Catarina, e em Milão, na Università Cattolica del Sacro Cuore.
O que os professores costumam fazer nos seu tempo livre? Com que regularidade vão ao cinema, teatro, shows musicais, shopping centers? Que tipo de livro, revista, jornal preferem ler? Quais os programas que assistem na televisão? Com que frequencia usam internet e as redes sociais? O que costumam fotografar e filmar? Se as tecnologias estão presentes na vida da maioria das pessoas, com os professores não seria diferente, sobretudo aqueles que participaram da pesquisa, que demonstraram ser altamente conectados com a cultura digital. Mas como essas e outras tecnologias que fazem parte da vida pessoal de cada um estão presentes na vida profissional? E de que forma os professores usam essas e outras tecnologias da cultura digital na vida pessoal, profissional, na escola e na sala de aula?
Essas foram algumas perguntas iniciais da pesquisa desenvolvida com professores de escola pública de Florianópolis e de Milão, e resguardadas as especificidades dos contextos socioculturais, é possível dizer que muitas respostas se aproximam e transcendem certas fronteiras e tradições. Ao elaborar um perfil de uso das mídias, encontramos desde o professor não usuário (que não usa as mídias e tecnologias porque não sabe ou porque não quer), o iniciante, o praticante e o pioneiro.
Certamente tais perfis são flexíveis e também se modificam conforme a mídia e as condições de formação. O importante nesse mapeamento inicial é poder identificar as dificuldades que os professores sentem para trabalhar com as mídias e tecnologias em sala de aula para poder pensar propostas de formação. Assim como é importante reconhecer e destacar as boas práticas para dar visibilidade e socializar as experiências significativas.
Entre as dificuldades, evidenciam-se problemas de formação, de infraestrutura e manutenção dos equipamentos nas escolas, falta de tempo para aprender a usar as tecnologias e outros. Nas boas práticas, experiências com uso e produção de mídia (fotografias, audiovisuais, blogs, rádio escolar) de forma crítica, autoral e colaborativa, projetos interdisciplinares na escola envolvendo professor de sala, bibliotecária, coordenador de sala informatizada, professor de Educação Física. Uma experiência que chamou atenção foi o projeto monitor, em que os alunos que sabem ajudam o professor no contra-turno ensinando aspectos dos usos da cultura digital aos colegas que não sabem.
Outro aspecto que chamou nossa atenção, foi a possibilidade de os professores participarem de um grupo de estudos no contexto da pesquisa com objetivo de discutir propostas de formação. O grupo era formado por professores/pesquisadores da universidade que atuam com formação inicial, professores de sala de aula e formadores do NTM que atuam com formação continuada em Florianópolis.
Como um desdobramento da pesquisa, o grupo abordou a questão da formação e das competências midiáticas e tecnológicas necessárias ao professor hoje a partir de olhares possíveis e dos lugares que cada um se situava. O destaque à formação cultural e à valorização profissional do professor sempre esteve presente nessa discussão, que também está registrada num artigo coletivo “Práticas formativas e colaborativas em mídia-educação”, publicado no livro acima mencionado.
Os desafios e dilemas da formação, das políticas públicas de inserção das tecnologias na escola, e dos usos da cultura digital de forma responsável, ética e estética são muitos e remetem a diversas outras questões e pesquisas.
No entanto, é importante destacar que ao final desse percurso, além de socializar e divulgar os resultados da pesquisa e da formação entre os pares e em eventos acadêmicos, organizamos uma viagem com um grupo de professores brasileiros que participaram da investigação para conhecer e dialogar de perto com os professores italianos. No roteiro, além das atividades na universidade e nas escolas italianas, museus, parques, galerias, outros espaços turísticos e culturais europeus também fizeram parte da viagem.
Certamente, uma bela experiência de pesquisa e formação, em que professores e pesquisadores transcenderam as fronteiras das escolas e universidades para construir outras parcerias e outras possibilidades de pensar a formação, os usos das mídias e os consumos culturais na perspectiva da mídia-educação.