“A missão da escola não deveria ser ensinar, mas criar cenários de aprendizagem baseados em diálogo e diversão. A sala de aula enrijece o aprendizado e, da forma como foi concebida, a escola impõe um modelo que não incentiva a criatividade e dá pouco espaço para que o professor promova transformações. A escola tem que ser mais divertida”. A análise é do pedagogo, pesquisador e professor de Psicologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Luciano Meira, que participou do evento Inova Educa 3.0, apresentando a palestra “Como implementar inovação na escola em um mundo impulsionado pela tecnologia”.
Confira a entrevista concedida pelo professor Luciano Meira à assessoria do evento.
Como implementar inovação na escola em um mundo impulsionado pela tecnologia?
Luciano Meira – A inovação na escola não passa necessariamente e exclusivamente pela tecnologia. Inovação é tudo aquilo que atende o desejo e muda o comportamento de uma audiência. A organização social da escola não incentiva a criação de novos modelos de educação. A tecnologia também ajuda, mas somente se for empregada de forma adequada para esta audiência, como o desenvolvimento de jogos digitais educacionais. É preciso entender como usar a tecnologia para motivar esta geração a aprender, como é o caso da Olimpíada de Jogos Digitais e Educação, um projeto de inovação baseado em tecnologias educacionais lúdicas.
Quais são os principais desafios que as escolas enfrentam para que sejam realmente inovadoras?
Luciano Meira – As escolas ainda sofrem de uma inércia resultante de uma arquitetura muito antiga. A escola ainda mantem uma estrutura secular que foi concebida para padronizar certos comportamentos nos alunos, mas acabou introduzindo muitos elementos que deixou a instituição rígida demais. A missão da escola não deveria ser ensinar, mas criar cenários de aprendizagem baseados em diálogo e diversão.
E o que é preciso para mudar este cenário?
Luciano Meira – É necessário criar inovação em larga escala para impulsioná-la em sistemas de educação e não somente dentro de uma escola em particular. Antes de mais nada temos que eliminar entraves à inovação que estão arraigados e são nocivos ao sistema educacional. As grades curriculares são herméticas e a estrutura educacional é cristalizada, aceitando pouco a introdução de inovações. É preciso sair desta rigidez de uma arquitetura secularmente montada.
Como preparar esta nova geração para realidade do mercado de trabalho?
Luciano Meira – As escolas não estão preparando nossos estudantes para o mercado de trabalho. As instituições precisam ter um compromisso com a formação humana e social. Para isso, é essencial termos empreendedores como gestores das escolas e não coordenadores que tenham apenas a função de monitorar o curriculum escolar. Há um grande descompasso entre o que a escola julga ser sua missão, que é ensinar, e o que deveria ser sua verdadeira missão, que é criar ambientes de aprendizagem.
Como deve ser esta escola inovadora?
Luciano Meira – Ela tem que criar espaços de aprendizagem além da sala de aula. Uma lan house pode oferecer um ambiente de aprendizagem mais interessante e que alcance melhores resultados. A inovação deve ser implementada para tornar o processo de aprendizado mais eficaz. Os educadores e gestores das escolas devem participar ativamente deste processo identificando e praticando comportamentos que fomentem a inovação. A sala de aula enrijece o aprendizado e, da forma como foi concebida, a escola impõe um modelo que não incentiva a criatividade e dá pouco espaço para que o professor promova transformações. A escola deveria perguntar aos alunos o que gostariam de aprender e não somente impor conteúdos. A escola inovadora tem que ser mais divertida.
Como educadora, deparo-me cotidianamente com esses entraves ao bom exercício da profissão. Já há alguns anos não consigo ver muito *sentido* no que faço, devido as amarras que entravam a cocriação e as coaprendizagens emancipatórias. Angustia ver as gestões engessadas pelos ditames legais.
A burocracia se transformou em um ‘elefante branco’ que ao invés de favorecer avanços, faz com que paralisemos e, não raras vezes, terceirizemos as gestões municipais de educação a especialistas.
Ou o MEC investe seriamente no desenvolvimento dos Profissionais da Educação ou continuaremos patinando e fazendo mais do mesmo.