Por Camilo Rocha
Colunista do Estado de S. Paulo
O dia 5 de novembro foi uma quarta-feira cheia de notícias importantes, como a divulgação do primeiro aumento da miséria no País em dez anos e o anúncio da conversão de esgoto tratado em água para consumo em São Paulo. Para milhões de pessoas em todo o Brasil, porém, a bomba do dia foi esta: o WhatsApp agora permitia que remetentes de mensagens soubessem se sua mensagem foi lida pelo destinatário.
O termo WhatsApp foi dos assuntos mais comentados no Twitter brasileiro naquele dia. Como de praxe, esta rede social e o Facebook (e, lógico, o WhatsApp) foram tomados por indignação, lamentações e piadas. Situações de constrangimento e dramas cotidianos foram previstos envolvendo o novo recurso, repetindo o que já aconteceu no chat do Facebook, que já contém o mesmo tipo de alerta. Um usuário dramatizou: “O que o amor constrói a mensagem visualizada e não respondida no WhatsApp destrói.”
Talvez só o Facebook conseguiria que uma simples novidade técnica, como o novo aviso de mensagem lida, gerasse tanta conversa e reação.
A repercussão reflete o fato de que o WhatsApp se tornou uma ferramenta essencial no dia a dia de donos de celular de qualquer parte do mundo, com destaque para Índia e Brasil. O aplicativo é a quarta comunidade virtual do mundo, com 600 milhões de usuários ativos. Fica atrás apenas da rede social e do serviço de mensagens chineses Tencent e do Facebook. Em fevereiro, a empresa disse que contava com 38 milhões de adeptos no Brasil.
Entre os mais jovens, o WhatsApp é uma obsessão e para constatar isso não é preciso pesquisa, mas mera observação do entorno. É esta a verdadeira ferramenta social dos mais novos, não o Facebook, com seus velhos, parentes e publicidade inoportuna, ou o email, uma relíquia usada quase que só para assuntos de trabalho.
Passo decisivo
O que se fala no WhatsApp é muito mais efêmero e livre de controles, o que encoraja conversas e compartilhamentos de todo o tipo. No momento, quem se sentir ofendido por algum conteúdo disseminado no WhatsApp deve se dirigir ao bispo, pois a empresa ainda não tem porta-voz no Brasil (o Facebook, que comprou o serviço por US$ 19 bilhões, ainda não responde por ele, segundo sua assessoria).
O WhatsApp segue dois preceitos de ouro no mundo da tecnologia: facilidade de operação e custo baixíssimo. Qualquer um que já tenha mandado mensagens de texto no celular sabe intuitivamente o que fazer no WhatsApp. E o fato dele usar a internet móvel para realizar a comunicação faz ele sair mais barato que as tradicionais mensagens de texto. Dados recentes indicam que o WhatsApp processou 7,2 trilhões de mensagens, quase o mesmo que o total de SMS pelo mesmo período, 7,5 trilhões.
O WhatsApp dará em breve um novo e decisivo passo ao oferecer chamadas de voz no aplicativo. A novidade, que usará tecnologia VoIP (voice over IP; como a do Skype), havia sido prometida para este ano, mas acabou adiada para o primeiro trimestre de 2015. O serviço tomará posição na próxima fronteira importante dos dispositivos móveis: os serviços de voz que usam a rede de dados. Com sua gigantesca base de usuários, pode representar um sério golpe na tradicional conversa telefônica, da mesma maneira que fez com o SMS.