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Netflix de olho nas crianças

Ideia é garantir a audiência do futuro.

Por Drew Harwell
The Washington Post

Publicado pelo Jornal Estado de S. Paulo
Tradução de Roberto Muniz

Grande parte do dinheiro que a Netflix investirá neste ano em filmes e programas de TV destina-se ao público infantil. O grande negócio de captar a atenção das crianças nunca foi tão competitivo – ou tão lucrativo –, e a Netflix empenha-se agressivamente em usar sua experiência para fazer programas que as crianças não conseguem parar de ver. Atualmente, cerca de metade dos 75 milhões de assinantes da Netflix vê regularmente filmes e programas para crianças, mas o potencial de receita no longo prazo vai muito além.

Executivos avaliam que, se o site conseguir conquistar espectadores quando ainda jovens, estes podem manter sua lealdade pela vida toda. “Temos toneladas de dados sobre o que as crianças veem. Sabemos, portanto, do que elas gostam ou não, quando já se cansaram de uma franquia ou estão longe disso”, afirma Andy Yeatman, diretor de conteúdo global infantil da Netflix. “Procuramos sempre incentivar a demanda, para que elas queiram sempre mais.”

A Netflix vai investir em torno de US$ 5 bilhões em filmes e programas de TV neste ano – cerca da metade do que todas as companhias cinematográficas juntas faturaram em bilheteria no ano passado. A maior parte desse dinheiro será investida no público mais jovem. O chefe de conteúdo da Netflix, Ted Sarandos, disse em janeiro que a companhia está “dobrando o investimento em crianças e famílias”. Perto de 20 dos 70 novos e futuros programas “originais” da empresa são destinados especificamente a crianças – de uma série de desenhos sobre sereias adolescentes de um estúdio francês a uma reedição da animação Popples, dos anos 1980. Para efeito de comparação, o gigante da TV a cabo Nickelodeon vai lançar 650 novos episódios de 30 diferentes franquias ainda este ano.

Visão de futuro. Para os viciados em séries como Demolidor e House of Cards pode parecer surpreendente que a companhia invista pesadamente em desenhos para crianças em idade pré-escolar e séries feitas por computador, como Dinotrux, que aborda um grupo de criaturas meio dinossauros e meio máquinas de construção.

No entanto, a ascensão da Netflix foi, em grande parte, alimentada por seus jovens espectadores. Mais de 80% dos americanos abaixo dos 35 anos são assinantes – um aumento de 9 pontos porcentuais desde 2014, segundo a consultoria MoffettNathanson. Nas crianças, a Netflix vê uma audiência cativa que pode se estender a futuras famílias.

No total, os americanos assistiram a 42 bilhões de horas da Netflix no ano passado, segundo dados da companhia. Outras pesquisas de mercado também apontam a representatividade do serviço nos EUA. Segundo a MoffettNathanson, o serviço respondeu por 6% do tempo gasto em frente a um televisor doméstico no ano passado, 4% a mais que em 2014.

E mais americanos consideram vídeos da web como parte indissociável de seu modo de vida. No ano passado, 61% dos consumidores americanos disseram que o serviço de vídeos era insubstituível, 17% a mais que em 2012, de acordo com estudo da consultoria Deloitte. Os entrevistados puseram o streaming de vídeos acima da internet no smartphone (55%) e do telefone fixo (38%). “Nosso objetivo é que cada um tenha seu programa favorito”, disse Yeatman. “Quando os pais pagarem as despesas da família, queremos que se sintam contentes com a conta da Netflix.”

Enquanto isso, os gigantes que disputam a atenção do público infantil sofrem. Em janeiro, só uma das três maiores redes de TV para crianças, a Nickelodeon, registrou crescimento do lucro em relação a 2015. As duas outras, Disney Channel e Cartoon Network, sofreram queda da ordem de 25%.

O investimento da Netflix no público infantil acontece no momento em que espectadores de todas as idades estão “se afogando” em opções de programas para assistir. O dilúvio de novo conteúdo original cresce cerca de cinco vezes mais em relação ao tempo gasto vendo TV, segundo pesquisadores da Barclay, um dado que atinge em cheio as emissoras de TV aberta e a cabo e pode trazer mais espectadores para plataformas sob demanda.

O serviço, porém, não está sozinho na aposta em crianças. Em janeiro, a HBO estreou seus primeiros episódios de Vila Sésamo, a série psicodélica cheia de bonecos que passou a maioria de seus 47 anos na televisão pública. A série foi comprada pelarede no ano passado. “As crianças querem mais. Estamos explorando todos os gêneros e estilos”, diz Bronwen O’Keefe, da Nickelodeon.

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